domingo, 12 de novembro de 2017

Como conseguir dinheiro pra pesquisa?

Você quer capturar aves, mas não tem nenhuma rede-de-neblina sobrando no seu laboratório? Você quer comprar um computador pra fazer seu doutorado, mas não tem dinheiro? Você precisa ir a campo, mas pagar do seu bolso é algo temível e você não tem reserva técnica?
Seus problemas podem acabar em breve! Hoje o post é sobre como ganhar dinheiro para sua pesquisa! Eu e mais os colegas Hugo Medeiros, Fernando Puertas e Marcio Araujo compilamos algumas fontes de financiamento, bem como dicas para você que quer pedir auxílio mas não sabe como.
Eu consegui boa parte do meu material de campo para o mestrado da Idea Wild, que cede 1500 dólares em material de campo. Graças ao Idea Wild, consegui 12 redes de neblina de 12 m e 3 lanternas de cabeça boas (Petzl) para minha equipe de campo. O único porém é que, para trazer o material que o Idea Wild te dá até o Brasil, você precisa ter um colega que vai receber esse material nos EUA e enviar pra você. Como no mundo acadêmico vira e mexe alguém vai pros EUA, isso foi bem simples de se fazer no meu caso. Para conseguir o apoio, na época tive que enviar o projeto por correio (impresso) para eles, o que poderia ter sido incômodo caso eu não tivesse alguém nos EUA pra imprimir e enviar por correio por mim (mais barato que enviar um FEDEX do Brasil), mas hoje em dia eles aceitam projetos por email mesmo (grande avanço!). Conheci o Idea Wild através de dois colegas que trabalhavam com morcegos e também tinham conseguido apoio deles anteriormente. Aí senti que teria chance, e arrisquei.
Além disso, durante o mestrado, consegui apoio da Bat Conservation international para participar de um Simpósio sobre morcegos no ATBC de 2012 (ECOSYSTEM FUNCTION, ECOLOGY AND EVOLUTION OF BATS: A TRIBUTE TO ELISABETH KALKO), o que foi muito bem-vindo. Para isso, me comuniquei com os organizadores do simpósio que queria participar e consegui o auxílio. Então é importante frisar que os auxílios não são restritos a idas a campo ou a material de laboratório: eles podem se dar como ajuda para ir a congressos também.
 O Hugo conseguiu apoio pros campos dele com a Rufford Small Grants, que apoiam mais de mil projetos na América Latina! Agora vamos às dicas do Marcio:
 1) Sempre saber bem a "cara" do fundo para o qual esta aplicando e adaptar sua proposta - olhar projetos que ja foram financiados antes é um bom meio pra isso. Algumas instituições disponibilizam os projetos aprovados e updates com andamento de cada um (ex: Cleveland Zoo).
 2) Enfatizar de maneira clara qual o impacto de receber este apoio para o projeto. Usar esquemas/diagramas é um bom meio pra isso. A maioria dos fundos não financiarão todo o projeto, então deve estar claro o que você precisa, o que já tem e o que cada verba irá garantir. Pessoalmente, um abordagem que gostaria de adquirir competência pra fazer seria incluir uma análise de risco para a viabilidade do projeto considerando cada fonte de recurso. Assisti uma palestra do diretor da Ford Foundation e isso foi algo que ele apontou como deficiente em propostas de pesquisas para grandes fundações.
Abaixo segue uma lista de grants para pesquisa relacionada com ecologia/conservação que recebem propostas de tempos em tempos:
Esta lista foi feita por uma empresa (instrumentl.com) que presta serviço revisando propostas e indicando as melhores fontes de financiamento
Terra Viva Grants Directory: http://www.terravivagrants.org/
 International Network of Next Generation Ecologists: http://innge.net/wiki/index.php/Funding_opportunities
 Muitas sociedades científicas também disponibilizam listas de fontes de financiamento. Em congressos internacionais, pode ser possível inclusive trocar horas te trabalho por desconto em inscrições, permitindo a participação de quem não tem dinheiro para bancar a viagem.
 Para quem trabalha com espécies ameaçadas, tente: https://ptes.org/grants/apply-grant/worldwide-grant-criteria/
 Para quem pensa em fazer visitas científicas no exterior ou cursos, vale a pena entrar em contato com os departamentos de intercâmbios, estudantes estrangeiros ou escritórios de relações internacionais das instituições. Eles costumam, pelo menos, indicar onde procurar recursos. Exemplos: 

Bom pessoal, é isso, esperamos ter ajudado! Se você tiver mais alguma dica sobre como conseguir dinheiro, comenta aqui!
Pegando uns Solanums em 2011 pra dar de comer pros morceguinhos...Valeu CNPQ e FAPESP!






segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Levei Major, e agora?



Oi pessoal, tudo bom? Esse post contém recomendações para quem precisa corrigir um manuscrito para o qual foi sugerido Major Review, ou o atual “Não podemos aceitar seu manuscrito do jeito que ele está, mas podemos reconsiderar talvez uma versão revisada que acate tudo o que foi sugerido pela revisão”:
  • Antes de começar a mexer no manuscrito revisado, leia uma vez o review e vá fazer outras coisas. Deixe passar pelo menos um dia e leia novamente. Você estará menos afobado e indignado e sentirá que o que eles pediram na verdade faz sentido e que não é tão impossível/chato de se fazer. Caso seja de fato, pense que “o que não tem remédio, remediado está”.
  • Não se abale com a sensação brochante de ler as críticas e um reject. Como diria meu antigo orientador, “para 749 nãos que eu recebo vem um sim”! Para quem é pós-graduando, lembre-se que você é ALUNO, e levar reject faz parte do caminho do aluno. Quase ninguém sai do mestrado publicando de primeira.
  • Responda ponto a ponto por ordem para não se perder.
  • Seu inglês é ruim? Escreva a carta resposta em português. Às vezes pode ser fácil argumentar na sua língua nativa, pelo menos nas primeiras vezes.
  • Não tenha medo de argumentar com os revisores, mas justifique bem suas argumentações. Na maior parte das vezes os revisores nos testam para tirar o máximo de informação sobre como conduzimos os trabalhos. Isso é um teste de qualidade para averiguar o rigor do trabalho.
  • Não fique tentando adivinhar quem é o revisor. Ouço pessoas que levam reviews cheios de críticas às vezes até com discurso de ódio ao revisor (revisor **zão!). Isso não é legal e faz você achar que o revisor tem um problema pessoal contigo, tirando o foco do que importa, que é seu trabalho. Pode ser melhor encarar as críticas do revisor como construtivas, ainda que muito duras. Achar que você é vítima da revisão é improdutivo e pode alimentar uma postura de mimimi que não é favorável no meio profissional.
  • Nunca menospreze as referências bibliográficas. Eu sei, pode ser chato pra caramba fazer ou conferir referências na mão. Eu particularmente odeio. Mas confira muito bem. Confira mesmo se você usar Mendeley. Confira elas mesmo quando estiver na fase de proof. Confira!
  • Por fim, após terminar a revisão, você enviará o manuscrito revisado para seus pares. Aí eles vão mexer (talvez) na sua revisão contribuindo para fechar logo essa fase. Aí você receberá as versões deles e aceitará ou não as alterações. Depois você lerá de novo o manuscrito e, cansado, perceberá que acha que está bom para ser re-submetido. Seu dedo coçará para entrar no site da revista e re-submeter. NÃO FAÇA ISSO se você estiver pensando consigo mesmo no momento “Não aguento mais olhar para esse manuscrito”. Caso você pense assim, salve, deixe o manuscrito guardadinho no seu computador e backup e vá fazer outra coisa. Deixe ele pelo menos 24h de molho. Depois que você estiver com sua paciência restaurada, abra, leia a revisão novamente, altere algum possível erro que passou despercebido (pois você não aguentava mais olhar para aquele negócio) e, aí sim, re-submeta!!!



E você? 

Tem alguma dica que deixa a revisão de um major mais suave?

Comenta aqui!


terça-feira, 10 de outubro de 2017

Percepções de um doutorado na metade do doutorado




Oi pessoal,

Estou sumida do blog, eu sei, mas como todos sabem, quando você começa o doutorado é como se você entrasse numa caverna.. e quando sai, sai com aquele aspecto de ser albino se arrastando, quase um troglóbio, só que tedioso... rsrs! Brincadeira..


Venho aqui jogar minha impressão sobre esse tal de doutorado em Ecologia e Biodiversidade, estando na metade dele.
Quando eu me matriculei, me matriculei toda feliz. Eu tinha sobrevivido ao limbo. Eu ia ser ecóloga! Eu ia ter bolsa! Eu tinha chances de ter bolsa FAPESP loguinho, era só escrever o projeto! Eu ia mudar de área de pesquisa, uhu! Eu ia ser multidisciplinar e holística, e ajudar as pessoas a prever áreas que terão hantavirose..
Só que aí de pouco em pouco vieram os "choques de realidade":
-O que quer dizer ser Doutora Ecóloga, se você não tem perspectiva de emprego? Acho que quer dizer ser pós doc por pelo menos seis anos!
-Eu entrei no doutorado sem bolsa.. Me matriculei dia 13 de Março de 2015 e só fui receber alguma coisa da CAPES em Outubro de 2015! Isso foi bem brochante! De verdade, eu passei em primeiro lugar na prova e o que eu ganhei (além de PARABÉNS de um professor do programa), foi NADA. Ou seja, se você quer fazer doutorado, lembre-se, você não é especial*, nem se você passou primeiro lugar.. quem dirá nos lugares subsequentes! Coisas desse tipo te ajudam a entrar numa crise da vida adulta de cara. Não é mimimi, é sentir-se o que se é.
-Eu não tive chance de ter FAPESP loguinho. Minha FAPESP só chegou na conta em Julho de 2016! A morosidade da revisão do projeto é outra coisa bem brochante. Isso quer dizer que o projeto tem que ser parido antes de se iniciar a matrícula no doutorado (ciência preventiva da crise!) para que você seja fomentado de acordo durante todo o processo (ou boa parte dele). Nessas horas eu penso que se eu tivesse filho pra cuidar, ou o leitinho dele, ou a minha carreira acadêmica estariam comprometidos! Ainda bem que nessa época eu tive ajuda da minha vózinha que se foi (te amo vó!) e dos meus pais. Sem isso, sem chance. 
-Eu ia mudar de área de pesquisa, ser holística e útil: Acho que isso foi a única coisa que manteve a "chama" acesa no doutorado. Ou seja, eu mesma e minha vontade de aprender. Me senti muito desafiada a conduzir o projeto que eu construí junto com meus colaboradores. Enfatizo que mudar de área de pesquisa exige muitíssimo do aluno.
Dificuldades a parte, teve também a parte super boa: EU TINHA TEMPO! Nestes dois anos de doutorado, eu fiz uma PORRADA de coisas legais. Quando eu olho para trás eu fico muito feliz, pois evoluí demais pessoal e academicamente. Deu tempo de iniciar e terminar um monte de trabalhos paralelos, conhecer gente de todo o lugar (desde Finlândia até Nova Zelândia) e pensar junto com grandes pesquisadores que eu admiro.
A única coisa que eu diria pra Renata do passado– e para vocês leitores aspirantes a um doutorado– é pra não ter expectativas de bolsa e de acolhida no PPG (Programa de pós graduação). Do resto, eu diria "Você está no caminho certo".
O tempo passou, e aí eu cheguei na metade do curso... e vi que eu tinha começado todos os capítulos do doutorado, mas todos eles ainda eram amorfos. Então agora eu desci com os projetos paralelos para um nível de dedicação basal e estou de fato fazendo meu doutorado. Com isso estou sendo forçada a aprender a dizer não, e eu sou péssima em dizer não! 
Em relação a ganho de tempo, preciso ressaltar que seguir o conselho do meu orientador e também meus guts de não incluir atividades de campo no meu doutorado foi o que me permitiu avançar na multidisciplinaridade do meu projeto, sistemas de informação geográfica, estatística, projetos paralelos e atividades DE ENSINO! Atividades de Ensino me alegraram muito durante o doutorado. Micharias ganhadas pela bolsa didática a parte, o fato das bolsas “tapa buraco” existirem e estarem super frequentes na UNESP me permitiu ser DOCENTE de alunos da Biologia, os quais eu adorei! Isso me permitiu ter certeza de que amo ser professora e acho que até sou boa nisso. Desejo muita força pros bolsistas didáticos, e que eles sejam mais valorizados, tanto no quesito financeiro quando no quesito status social.  
Por fim, espero que lendo isso, você que quer fazer um doutorado em Ecologia ou áreas relacionadas, esteja previnido e consciente da falta de bolsas nos PPGs. Lembre-se dos seus sonhos e pondere se fazer doutorado vai te ajudar a conquista-los.
Boa caminhada para você!
Você quer compartilhar suas percepções também? Comenta aqui embaixo :D


*Essa parte pareceu cruel, mas o mundo do trabalho é por aí mesmo. É importante lembrar que na vida acadêmica, o retorno é principalmente em forma de prestígios (incluindo chocolate). Parafraseando o Pantaneiro, que gentilmente revisou este post, nós pós-graduandos somos especiais sim, fazendo parte de uma parcela muito pequena da população que se dedica à Ciência e ao conhecimento. Mas ninguém (ou raramente alguém) vai te dizer isso na universidade, portanto a autoconfiança tem que estar sempre em dia. Apesar de ninguém dizer que você é ótimo nesse meio com tanta frequência, suas conquistas falarão por você. Seus feitos te precederão. O fato de seus alunos aprenderem ou irem com vontade de aprender na sua aula, seus cursos nos congressos serem sucesso e seus artigos serem citados é uma forma de reconhecimento louvável. E por fim, o fato de não ter bolsa para todo mundo é uma falha no sistema, não do aluno. Mas como melhorar isso é assunto para outro post..


Divulgação Científica é preciso

Oi pessoal, Como está essa correria?  Esses dias saiu um post muito bom sobre como e por que escrever um press release no  Sobr...