Depois de alguns meses de
estiagem, eu volto a desembocar os posts que estavam sendo amadurecidos. Hoje o post é uma carta a um ou alguns velhos (ou não tão velhos assim)
cientistas.
Eu nunca fui a Harvard. Diferente
do honorável Professor Edward O. Wilson, cujo livro acabo de ler com gosto.
Neste livro, Prof. Wilson repete várias vezes o quanto nós, jovens cientistas,
somos necessários. Venho por meio desta carta lembrar do quanto você, velho
cientista, também é necessário! E urgentemente imprescindível, no mínimo para
seus alunos.
Escrevo em nome dos
pesquisadores-alunos, ics, mestrandos e doutorandos, órfãos, semi-órfãos,
filhos de vários pais científicos, ou de um convencional orientador.
Velhos cientistas, vocês são
necessários!
Nós, que nunca fomos a Harvard,
não somos formados após a formatura. Somos gado novo, sem peso suficiente pra
ser mostrados na Exposhow da ciência.. Nossa raça é indefinida, misturada,
brasileira. Não somos ensinados na graduação o que é ser profissional, o que é
ser Biólogo/Ecólogo em um mundo “mudado” e em um mercado de trabalho que nos é
limitado por muitos motivos. Tentamos correr atrás do prejuízo, mas é muito
difícil enxergar um problema quando se está dentro dele..
Nós entramos em um mestrado e
damos de tudo pela ciência, mas não nascemos prontos. Somos gado novo. Somos
formiguinha. Os velhos cientistas são nossos orientadores, mentores, ícones e
exemplos. Eles passam pelo departamento muitas vezes silenciosos, outras vezes
irônicos, ou ultra-rápidos. Cobram inovação, cobram publicação ao lado do
bebedouro. Mas e a formação? Muitos dos que dizem ser esse tipo de observação
um mimimi, mas na verdade o que pensam é MIM-MIM-MIM. Orientadores, se coloquem
no lugar dos seus alunos. Vocês já devem ter ouvido falar de cherry picking e
outras dificuldades na formação e sucesso de um cientista, certo? Já fui a
palestras magnas e li textos o suficiente para defender que hoje é mais difícil
pra gente em muitos aspectos. Publish or perish, corta de verbas, falta de
bolsas (essa eu já estou calejada), falta de espaço, bolsas didáticas-merreca,
falta de material, de método.. Será que os velhos cientistas também poderiam se
aperfeiçoar em serem orientadores, no ritmo em que seus bons alunos o fazem em
ser alunos?
Se eu não fosse bióloga, seria
psicóloga. Já ouvi muito de muitos alunos e sim, de alguns professores. Ah se o
blog mostrasse tamanha frustração, espera, e o quanto qualquer atitude/não
atitude do velho cientista influenciam na formação do jovem.. Mas aí os
orientadores costumam a tratar alunos como um coletivo, “alunos”. “Tem aluno
que faz isso, tem aluno que faz aquilo, um absurdo”. Alguma vez você se
perguntou, ou perguntou a eles, se estava dando atenção suficiente? Ah... nem
brinca né! Após essa frase, talvez muitos velhos cientistas abandonem o texto e
voltem pra outra aba do Chrome ou Safari.
O que sempre me agradou na
ciência é a progressão da interação Mestre-Aprendiz, que leva a maravilhas na
vida científica dos dois. E quando se fala em sala de aula, isso é tão especial
quanto. Só prestei Biologia porque a Biologia ensinada pelo meu professor era FASCINANTEMENTE
ensinada por ele e aprendida por mim! Na minha visão, essa progressão no mundo
acadêmico deveria ser sempre única e especial, como sempre foi para mim. Visão
romântica demais, talvez. Porém, vejo casos em que essa progressão se tornou
número. Número de alunos, número de papers de impacto maior que 2.0. Cadê a
calma? Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo – Disse o pensador. Será que
os velhos cientistas deveriam refletir sobre seus alunos de forma menos
atropelada por prazos?
Como vamos procurar novos mundos na Terra?
Como teremos uma vida na ciência se não tiver vida pulsante, mergulho
interativo, sintonia na ciência entre os próprios autores das obras? Temo por
uma ciência rasa e asséptica, de linha de mercado.
Que tal uma busca ao pensar
juntos sem levar em conta prazos, assinaturas às pressas, mas sim Descobertas e
Questionamentos? Vamos a Harvard: - Quando
falei a ele sobre equilíbrio, falei das ilhas próximas e distantes como estando
“saturadas”. MacArthur disse: “Deixe-me pensar um pouco sobre isso”. Eu confiei
que ele iria descobrir algo. Eu já tinha visto indícios da engenhosidade de
MacArthur.. - Em diversas discussões esses caras formularam uma Ecologia moderna
e fundamental! Trocavam cartas e as liam, diferente dos e-mails que, se hoje
tiverem mais do que 4 linhas, não serão lidos pelos orientadores, ou mesmo por
co-autores! Eles, os velhões se encontravam, sentavam e pensavam juntos. Não
soa nada difícil a iniciativa que foi publicada em 1967 para o mundo.. Que tal
desacelerar e ouvir?
E falando em parcerias, disse
Wilson: “Minhas dificuldades em Harvard aumentavam (...) Os mais velhos e mais
reconhecidos do corpo docente que trabalhavam com as mesmas disciplinas ou
estavam completamente absorvidos na tarefa de cuidar dos seus jardins
acadêmicos ou estavam em negação”. – Nem Harvard pode ser perfeita, mas de fato
se mostra um grande exemplo por meio de Wilson, que nos valoriza, os jovens
cientistas, e nos diz que somos necessários! Aliás, também não é nada mal regar
seu próprio jardim. Portanto, lembrem-se: velhos cientistas, vocês são necessários,
e isso vai muito além da sua assinatura!
Menos mimimi, menos MIM-MIM-MIM!
Leituras:
http://physics.wustl.edu/katz/scientist.html
https://marcoarmello.wordpress.com/2012/03/14/newbies/#more-170
https://en.wikipedia.org/wiki/Cherry_picking_(fallacy)#In_science
https://dynamicecology.wordpress.com/2012/11/27/ecologists-need-to-do-a-better-job-of-prediction-part-i-the-insidious-evils-of-anova/
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