Aconteceu em Julho de 2013. Demorou, mas o grande dia, o mais esperado, o mais almejado na minha vida de bióloga, aquele que resolveria o dilema, a dúvida que pendia entre o ser possível e o “não tenho jeito para a coisa”*.
Como deu trabalho.. e o mais engraçado é que a gente pensou tanto para alcançar a simplicidade máxima. A grande descoberta pessoal do meu primeiro paper é que, para publicar, você precisa trabalhar exaustivamente para conseguir ser o mais claro e simples o possível (obrigada MARM)!
Não sei se as sensações que eu tenho sobre mim mesma como pesquisadora serão sempre as mesmas.. Aliás, espero que algumas dessas sensações passem: Além do meu constante sentimento de defasagem científica diário, vem também a superação, reflexão, o subestimar meus dados, e a luta entre a menininha que abraça sua hipótese de pelúcia e a cientista cética que as chuta!
Pelas pesquisas que tenho feito ultimamente, posso identificar e listar para vocês algumas fases recorrentes comuns a elas todas**.. espero que se identifiquem. E caso ainda não tenham passado por por essas fases ao longo de sua pesquisa, já fiquem avisados que elas existem!
**Atenção, essas são as minhas impressões...conheço outros colegas que tem visões diferentes e que passam por outros estágios, sejam eles o “tesão por resolver qualquer mistério” ou o “querer cortar os pulsos”, ou mesmo a fase “bala no orientador” srsrsrs!
O Encantamento: para mim, a parte mais gostosa de todas... talvez mais até do que o publicar. É aí que você, com calma, procura lacunas na ciência, perguntas relevantes, que fazem sentido.. angústias científicas que você gostaria de resolver. E aí você aplica todo aquele conhecimento de método científico para escrever o seu projeto! É lindo.. as discussões com o orientador ou demais co-autores, aquela “viagem” e ideias fluindo. Aí você embasa suas hipóteses, define um bom delineamento, algo exequível.. nesse momento você fica bem otimista com o campo também, ou com a coleta de dados.. E você usa muito da sua criatividade, o que é muito legal!
A angústia: após 3 meses de submetido, a aprovação do projeto ainda não saiu.. o relógio correndo e você começa a pensar nos problemas logísticos que terá se não começar os campos AGORA! (nesse momento sinto que muitas pessoas vão se identificar).
O vislumbre: isso é novo, isso vai ser muito útil! Projeto aprovado, tenho grana, bora pro campo/lab/museus do mundo!
A estafa: depois de metade dos campos concluídos a fadiga toma conta de você. Essa fase é um limiar real. Muitas pessoas nesse momento pararão de fazer os campos por falta de tempo/dinheiro/energia e analisarão tudo daquele jeito mesmo. Outras pessoas terão uma crise durante mais ou menos um mês, quando vão chorar, conversar com amigos, refletir e chegarão na conclusão de que elas não são vítimas da própria pesquisa. Aí elas pararão de se sentir como vítimas e levantarão, sacudirão a poeira e darão a volta por cima, cumprindo todas as etapas da melhor maneira possível (sangue+suor+lágrimas). Outras pessoas desistirão da pós-graduação e da vida acadêmica.
A fase “Acabei os campos”/”Acabei o experimento”/”Acabei os sequenciamentos”/”Acabei de medir todos os bichos do museu”: ESSA FASE É UMA DELÍCIA! Agora você tem A PLANILHA! Você olha deliciada para aquela planilha e vai comemorar, pagando rodada de pinga pra galera!
A fase organizar estágio relâmpago no exterior: se resume a LOUCURA! Mas vale a pena!
A queda do coqueiro: Aí você começa a fazer os primeiros EDAS, gráficos exploratórios.. e pula logo pro que interessa.. para aquela associação que você esperava (já que sua hipótese ainda não era modular naquela época rsrs..). Seu coração bate apertado quando você vê que o padrão que você esperava não é tão claro.. ou que nem era um padrão! E você quebra a cabeça pensando no que pode explicar aquilo, mas depois de não se satisfazer com suas explicações, você vai dormir, ou tentar dormir, chateado, pensando que você é uma m###a de pesquisador rsrs!
Fase “já se passaram dois anos..”: essa fase faz qualquer um refletir muito. Por exemplo, em um mestrado, é fim de bolsa, mas a pesquisa não acabou. Cadê o artigo? ... tenso..
Bom.. no momento eu estou na fase “já se passaram dois anos”. Conforme eu for conhecendo novas fases, atualizo aqui. E vocês, tem alguma fase recorrente na sua vida acadêmica? Compartilhe!
*na época, a publicação resolveu essa dúvida, mas hoje em dia ainda tenho muitas outras, afinal papers não são tudo, embora sejam muita coisa!
Blog relacionado à vida de pós-graduando, angústias científicas, crônicas e ossos do ofício de ser Bióloga e pesquisadora. Eu sou uma bióloga formada pela Universidade Federal de São Carlos, e doutoranda em Ecologia e Biodiversidade pela Unesp Rio Claro.
domingo, 1 de junho de 2014
terça-feira, 11 de março de 2014
Repasse do Estágio no exterior (BEPE-FAPESP-EUA)
Oi Pessoal, depois de mais de um mês de volta ao
Brasil, volto a escrever no Blog para começar bem o ano.
Aqui vou colocar dicas valiosas (pelo menos para mim foram) e
um repasse para quem gostaria de ir para o exterior por uns meses durante a
pós-graduação, ou mesmo durante a IC.
Eu realizei um estágio BEPE-FAPESP (Bolsa de estágio de
Pesquisa no Exterior). Minha experiência no exterior durou três meses, mas a
preparação, desde aquela ideia plantada pelo meu orientador lá no ano passado
até o pós-BEPE, durou quase um ano. Passei esses três meses em duas
universidades, na Louisiana State University (LSU) e na Texas Tech (TTU).
Antes de começar: Nesse
texto eu me refiro somente às experiência/pessoas/modo de funcionamento que vivi
nos EUA. Gostaria muito de saber as experiências dos leitores também,
compartilhem conosco!!!
O primeiro passo: Por que você quer ir para o exterior?
Já ouvi muita gente dizer “ah, vai ser uma experiência
positiva com certeza”. Ainda que você não produza muito, ou não arranje muitas
parcerias no laboratório escolhido, você sempre terá um monte de coisas novas a
descobrir no país. É verdade! Mas é sempre bom ir focado, ter um bom motivo para
ir fazer pesquisa naquele lugar e com aquele orientador estrangeiro. No caso do
BEPE, a FAPESP costuma ser bem criteriosa, embora estimule muito a ida do aluno
ao exterior.
Então o primeiro passo é saber onde quer ir e quem está lá
para te receber. O contato com o orientador estrageiro deve ser muiiito antecipado,
muiiito antes da data da viagem. Isso porque os professores de lá são pessoas ocupadas
(os daqui também hehe), e organizam suas agendas com meses e até anos de antecedência
de um determinado evento.
A memória deles costuma ser boa, e a resposta costumar ser
pronta! Os americanos costumam ser muito diretos, então não se ofenda caso ele
te diga que não pode te receber. É para o seu bem!
É claro que essa antecedência de contato nem sempre é
possível, muitas vezes você só conhece o “cara” pelos papers que ele produziu e
a ideia e amadurecimento para iniciar o processo de realização do sonho de
fazer uma parte da sua pós no exterior chega num prazo apertado. Comigo não foi
diferente! Mas o ideal nesse caso é fazer o que eu digo e não o que eu fiz: Entrei
com pedido de visto com um mês antes da viagem, bem como submeti o projeto BEPE
um mês antes da data pedida de início de vigência (LOUCURA!). Mas a FAPESP
aprovou meu projeto de cara, porém numa data atrasada, então tive que pedir
alteração de vigência.
O meu caso foi uma exceção para a FAPESP, nunca tinha
acontecido isso antes, mas saibam que é possível alterar a vigência do BEPE
mesmo estando com o prazo em cima (pelas normas deles de sair do país a pelo
menos 4 meses antes do término da bolsa)!!
O orientador estrangeiro
É sempre legal saber que tipo de recepção seu orientador
tende a dar a alunos estrangeiros. Tenho amigos que foram ao exterior por um
tempo e só viram o orientador em dois momentos: No dia em que chegaram e poucos
dias antes de ir embora. Num mundo ideal, todos os planos sairiam do papel e
seriam realizados no projeto junto ou sob a supervisão do seu orientador
estrageiro, mas nem sempre é assim.
No meu caso, como eu sou uma latina sentimental, procurei
saber com um pesquisador de extrema confiança minha se o meu orientador
pretendido era um cara “gente boa” e acolhedor. Deu certo! O cara era muito
gente boa e um excelente orientador. Além de tudo ele me recebeu literalmente
de braços abertos, já que é casado com uma Paraguaia e conhece nossa cultura
latina, cheia de abraços!
Burocracia
As menores linhas podem ser as mais importantes nas regras
para se ir ao exterior. No meu caso, eu fui para os EUA. Dei prioridade máxima
a entender e seguir as burocracias de entrada no país, mas deixei de lado as
burocracias da universidade (erro!). Então leia sempre tudo, várias vezes, e
sempre leia os rodapés. É chato, mas é essencial para te acalmar, tomar as
rédeas do processo e conseguir o que deseja, seja visto ou SEVIS (autorização
para estudantes).
O maior pepino que eu enfrentei com isso me custou 250
dólares. Eu fiz um seguro no brasil (INTERCARE), porém a universidade (LSU) só
aceitava seguros que tivessem um representante físico não-terceirizado nos EUA,
e isso a INTERCARE não tem. Assim sendo, tive que adquirir o seguro saúde da
LSU, o que me custou essa grana a mais. Essa informação estava escrita em um
rodapé..
A dica maior
Não hesite, vá! RECOMENDO MUITO que todo cientista entre em
contato com a ciência feita no primeiro mundo. Aí vai uma frase retirada do
filme “Aposta Máxima”: “Cuidado com essa vozinha dentro da sua cabeça te
dizendo para não fazer isso. Essa vozinha não é sua consciência, é MEDO...”. No
filme, a frase foi usada num contexto diferente, mas o efeito é muito bom. Eu
fiquei com muito receio de ir, quase desisti. E o que me prendia não era razão
ou consciência, era MEDO. Medo de sentir saudade, medo de estar num lugar
estranho, medo de avião, MEDO. Então, não tenha MEDO!!! Ou supere o MEDO! Obrigada
amigos (principalmente Mi, Julia, Marco e Miltinho!) por me estimularem a
ir!!!!!
“Se vire” e dicas
mais pessoais
Tenha um diário: Eu sou uma pessoa extrovertida, porém
momentos de solidão ou de “homesick” acontecem, principalmente quando está
extremamente frio e não se tem nada pra fazer. Fiz um diário e comecei a contar
os dias a partir do dia 1. Meu diário tem 90 dias e toda essa informação
escrita, além de me ajudar muito a refletir sobre minhas vivências e aliviar a
saudade, serão úteis, pois contem dicas de lugares legais que eu fui, pessoas
que conheci, piadas internas, comidas gostosas... alguns bons detalhes que com
certeza eu esquecerei com o tempo. Obrigada Julia por me convencer a levar um
diário!
Trabalhe duro, mas ouça o sua voz interior! Vai ter um
momento no estágio em que você simplesmente ficará atolado em um ponto e não
conseguirá prosseguir. Nessas horas, ouça sua voz interior, sua cabeça cansada,
seu eu fisiológico e aproveite!!! Muitas vezes nosso cérebro precisa de um
tempo para absorver informações e avançar no trabalho, ainda mais trabalhos
como o do cientista, que muito provavelmente terão forte viés intelectual num
estágio no exterior.
Respeite o silêncio dos gringos: Muitas vezes vai acontecer
numa conversa com uma pessoa nova, o assunto vai acabar. Se você não tiver nada
de bom pra dizer mais, não diga.. o silêncio não precisa ser “akward”..
Faça dois backups! SEMPRE..
Não tenha vergonha de desabafar com seu orientador. É uma
via de duas mãos! Mostre o que sabe, o que não sabe, e o que gostaria de
aprender (humildade na ciência). Você é um aluno!!! E aluno não é professor,
aluno é aluno! Aproveite cada minuto com
seu orientador, mas sem puxa saquismo! Adorei conviver com o meu orientador
no exterior, me considero uma aluna de sorte! De verdade, ele é um exemplo que
levarei para a vida inteira! Tanto como pessoa, quanto como cientista!
Bom, quem quiser
especificamente dicas sobre as universidades que eu fiquei, é só me perguntar.
Já digo de antemão que elas são EXCELENTES! E é claro, para quem quer trabalhar
com morcegos nos EUA, Texas Tech é a pedida!!!
Esse post será aperfeiçoado com o tempo, conforme eu for me lembrando
de mais dicas, mas o “grosso” ta aí! Compartilhem suas experiências também!
Obrigada a todo o pessoal que conheci no exterior, só gente boa!!! Desde os americanos até a colônia brasileira em Lubbock!
Esse é o Read Reader, feito em bronze. É um homem-livro, feito por Terry Allen, e fica na Texas Tech.. A leitura pode ajudar na construção de pessoas melhores =D
segunda-feira, 10 de março de 2014
Resoluções e Memorandos ácidos para um próspero ano novo do pós-graduando:
Como dizem que o trabalho de verdade no Brasil só começa depois do carnaval, vamos às resoluções ácidas:
1) Have a life
2) Tomar menos café, afinal meu estômago precisa durar até eu passar em um concurso, pelo menos..
3) Não checar e-mails às 10h da noite ou logo antes de se deitar, se não quiser cobranças do orientador que te levarão à insônia
4) Atualizar os nomes dos 800 MB de papers que eu baixei e não li
5) Submeter o artigo e conquistar o mundo
6) Ler o que os revisores disseram sobre “como meu artigo é legal, mas não para aquela revista” como se não fosse comigo
7) Não ter pressa para terminar a pós-graduação, pois afinal, para que ter pressa de ficar sem bolsa?
8) Lembrar que o papel aceita tudo, mas a FAPESP não
9) O relatório de hoje é o paper de amanhã
10) Nunca subestimar a burocracia. E se algo pode ser burocrático no programa de pós, será!
11) Não copiar e colar o script em vão
12) Se o código funciona e eu não sei pq, e se o código não funciona e eu não sei pq, descobrir o pq
1) Have a life
2) Tomar menos café, afinal meu estômago precisa durar até eu passar em um concurso, pelo menos..
3) Não checar e-mails às 10h da noite ou logo antes de se deitar, se não quiser cobranças do orientador que te levarão à insônia
4) Atualizar os nomes dos 800 MB de papers que eu baixei e não li
5) Submeter o artigo e conquistar o mundo
6) Ler o que os revisores disseram sobre “como meu artigo é legal, mas não para aquela revista” como se não fosse comigo
7) Não ter pressa para terminar a pós-graduação, pois afinal, para que ter pressa de ficar sem bolsa?
8) Lembrar que o papel aceita tudo, mas a FAPESP não
9) O relatório de hoje é o paper de amanhã
10) Nunca subestimar a burocracia. E se algo pode ser burocrático no programa de pós, será!
11) Não copiar e colar o script em vão
12) Se o código funciona e eu não sei pq, e se o código não funciona e eu não sei pq, descobrir o pq
quarta-feira, 29 de janeiro de 2014
10 maneiras de fazer uma hora* tediosa passar mais rápido
Aí vai a listinha para você que
precisa esperar alguém no aeroporto, ou está no aeroporto, ou está na sua casa
ou trabalho mesmo e não consegue mais escrever o paper, terminar o relatório ou
pensar em outra coisa útil e atraente a se fazer. Sim, quando esses momentos
ocorrem em horários nos quais supostamente você deveria estar trabalhando (e
você aparentemente não está cansado nem nada, mas entra em uma fase “don´t
care, não vou trabalhar, mas também não vou sair do escritório”): eu os chamo de
súplicas da alma por novidades. É o momento que seu cérebro pede coisas novas e
você nem sabe como começar a procurar. No começo é muito parecido com
procrastinação, mas conforme o tempo vai passando você vê que o que você busca
é algo mais profundo (vai além da linha do tempo do facebook), e na aparente
procrastinação pode surgir algo muito relevante para seu crescimento pessoal. A
súplica da alma é um momento de procura, de provocação a si mesmo. Eu tenho um
desses momentos por mês regularmente, e não, não é tpm! Ok, a súplica da alma
quase sempre começa com dúvida, hesitação em trabalhar e procrastinação, mas a
mesma pode render novas ideias de papers, otimizações na vida e solução de
problemas e definições de novas angústias científicas com uma dose de criatividade
que só vem quando o cérebro está mais relaxado!
Eu não posso te ajudar a
encontrar o que a sua alma procura especificamente, mas com certeza posso
ajudar na procrastinação inicial!
1) Leia
o manual, ou passe os olhos, ou faça o manual. Pode ser de qualquer coisa. Pode ser o manual
daquele programa que você não está conseguindo usar..
2) Veja
arquivos antigos. Às vezes uma ideia importante se perdeu no seu computador por
falta de organização e empilhamento digital. E aí, aquilo que um dia foi uma
meta, ficou para trás..
3) Procrastine
para valer: Jogue guess the song ou flash pops. E se seus colegas do
laboratório estiverem empacados também, chame eles.. mas não faça muito
barulho, senão a secretária do departamento pode vir te dar um esporro!
4) Procure
novas músicas, novos cientistas, novas áreas de pesquisa, saia da caixinha
5) Fuçe
no lattes de pessoas conhecidas e nem tão conhecidas assim (haha, te peguei,
você já fez isso né?) e aproveite para atualizar o seu..
6) Aquele
manuscrito engavetado ainda tem chances de sobreviver à publicação? CONSIDERE
7) Se
você é biólogo/ecólogo saia por aí vendo os sites “ambientalistas”, analise
situações mais profundamente.. reveja suas motivações mais profundas..
8) Jogue
Qranio, se você ama trivias e está meio enferrujado nos conhecimentos gerais!
9) Escreva
no seu blog.. vai na fé.. mexa no seu
fotolog..
10) Comente
no blog dos outros, se expresse, compre a sua ideia e diga por que não quer
comprar certas outras!
Bom, é isso.. e
é claro que escrevi esse post num momento exatamente como o que eu defini lá em
cima. E não, não me arrependo de ter “perdido” essa uma hora com isso!
Se você tem mais
dicas de procrastinação (incluindo addictive games) ou de atitudes propícias à
inspiração, compartilhe!
*ou mais horas! Mas
quando o cérebro criativo desperta, é impossível prever quanto tempo esse
estado vai durar =D
Relacionados:
segunda-feira, 30 de dezembro de 2013
2013 e por que você quis ser biólog@?
Embora saibamos que temos muito a fazer.. terminar relatórios (ou começá-los!),
capítulos, campos, logísticas... no fim do ano sempre nos cabe um tempinho de
reflexão sobre ideias não práticas, porém mais profundas e talvez
muito mais importantes que nos levam a ser quem nós somos.
Diferente do fim de 2012, o fim de 2013 não me
causou uma sensação de “fiz tudo que deveria ter feito”. Não estou aliviada,
não estou conformada por ter passado o ano conformada. Sim, 2013 inteiro foi um
ano de conformidade com o mundo para mim. Foi o ano da resignação, foi o ano do
let it be, foi o ano em que trabalhei como formiguinha sem me importar muito
com o resultado, já assumindo que tenho um efeito ínfimo no movimento da roda
do mundo.
Talvez eu esteja com consciência ecochata ativista pesada.
Não que eu ache que fiz pouco pelo meio ambiente
considerando minhas possibilidades, mas acho que falta muito para eu me tornar
a bióloga-cidadã-ambientalista-livre-pensadora que eu quero ser. E acho que não
é só comigo.
No âmbito “mestrado”, sinto que cumpri todas as
obrigações que cabiam a mim, e com primor. Agora, por inércia e dose maior de
dedicação, me envolver tanto no MEU mestrado me sugou muito do mundo real. Eu
vivi na bolha do mestrado. No berço confortável e desconfortável do
individualismo ou da bolha menor de interações que coube ao meu círculo de
trabalho.
E o que é mundo real para mim? Mundo real é me
importar com coisas além do meu próprio umbigo, é ter uma percepção não vaga e
muito menos resignada enquanto ser social, representante de um órgão de classe
(biólogos), poderia ter feito mais para mudar o que me incomoda, mudar os erros
ou outcomes da atividade humana que
me levaram a escolher essa profissão em primeiro lugar.
Talvez isso soe muito aulinha de ciências sociais,
geografia e biologia, mas ABSOLUTAMENTE TUDO o que me motivou a ser bióloga
quando eu tinha sei lá, 8 anos, continua por aí!!! E é tudo tão lógico e óbvio...
Sobrepesca, poluição, contaminação, caça predatória, tráfico ilegal de animais
silvestres, erosão e degradação de solo, falta de água potável e saneamento,
crescimento acelerado da população humana, mudança climática, desmatamento e
bycatch (o que vem a mente: pobres tartatugas!).
Se alguém por aí tiver alguma retrospectiva cientifica
que me mostre que alguns desses aspectos estão melhorando globalmente, me
mostre, compartilhe!
A intensão desse post não é a priori ser um ensaio
profundo das inconformidades de umabióloga, é apenas uma visão superficial de
algo que me incomodava pungentemente e agora o que me incomoda é não ter me
incomodado tanto esse tempo todo, por razões egoístas. Onde está aquela estudante
que acompanhava as notícias ambientais diariamente?? Agora tudo é.. “eu sabia”,
“o dinheiro sempre fala mais alto”. As causas socio-ambientais deveriam ser uma
prioridade!
Agora e você, por que você decidiu ser biólogo em
primeiro lugar? Você se tornou a pessoa que você sonhou em ser?
Diga nos comentários!
A frase de 2014 será, como dizia a música do teatro
mágico: NÃO ACOMODAR COM O QUE INCOMODA.
Um abraço a todos os leitores do blog, biólogos,
ecólogos, pós-graduandos e graduandos guerreiros querendo entender a
complexidade da vida de das secretarias de pós!
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Reflexões e recomendações na SEGUNDA metade do mestrado
Reflexões e recomendações na SEGUNDA metade do mestrado
Olá Pessoal! Parabéns a todos os mestrandos que entraram na pós no início do ano passado e chegaram até aqui! Parabéns para você que conseguiu:
* concluir seus créditos em um ano!
*fazer todos dos seus campos/lab no momento em que achou que nesse ponto já teria QUALIFICADO e escrito a tese inteira
*respirar fundo e tratar bem as secretárias da pós e das finanças, lembrando que elas não têm culpa da burocracia, é o sistema! (superei essa fase faz tempo!)
*conciliar de modo minimamente aceitável sua vida acadêmica com família e encontros com velhos amigos de faculdade e infância..
*ler um artigo por dia em alguma semana no início do ano (passado)
*ver seu orientador por skype do outro lado do mundo, o que zerou suas angústias, pelo menos naquele momento!
Sabemos que não é fácil, se fosse fácil qualquer um fazia pós-graduação!
Agora, depois de quase dois anos no programa de pós em Zoologia da UNESP Rio Claro, ressalto e comento as seguintes disciplinas e já adianto que só por essas disciplinas já valeu a pena:
1) Curso Latino-Americano de Frugivoria e Dispersão de Sementes (Prof. Mauro Galleti et al_UNESP etc)
Passar alguns dias no campo com professores como Pedro Jordano foi excelente. Conhecemos o Parque de Intervales e suas plantas e animais. Tive o imenso prazer de ver pela primeira vez ao vivo e a cores um grupo de muriquis comendo embaúbas. Elevei a embaúba ao status de árvore da vida de Intervales, pois em apenas uma manhã observamos mais de quarenta espécies de animais (entre aves e macacos) a visitando! Agora imagine à noite, os morceguinhos na embaúba? Serviço 24h de dispersão de sementes... Também aprendemos muito sobre remoção de frutos, epizoocoria, macacos, antas, etc..
2) Curso de Ecologia da Paisagem (Prof. Milton Cezar Ribeiro_UNESP)
Essencial para quem não manja de ecologia espacial, e para quem manja, uma boa oportunidade de aprender mais com quem sabe. O Prof. Miltinho é fera. Além de publicar highly cited artigos, é um excelente professor. O legal dessa disciplina é a autonomia e suporte na hora de montar os projetos finais. Ter também a visão de um professor não-biólogo (bacharel em ciência da computação) nos faz ver o mundo com outros olhos. No que a ecologia de paisagem pode contribuir para a conservação da biodiversidade remanescente? Com certeza, esse curso nos dá idéias bastante aplicáveis. Outra coisa legal do curso é que ele começa numa quarta-feira e termina na outra quarta-feira. O break do fim de semana é essencial para pensar nos projetos e assimilar tudo!
3) Curso de Redes Ecológicas (Prof. Marco Mello_UFMG)
Mais didático, impossível. Para quem curte interações animal-planta, esse é o canal. O curso é de uma semana, condensado. Com aulas e práticas em computadores todos os dias praticamente. Nele mexemos no R, plotamos redes, calculamos suas métricas e entendemos por que se usar essa abordagem tão fascinante. Só para constar, a monitora do curso é muito eficiente também (EU!)
4) Curso de Modelagem de Distribuição de Espécies (Prof. Milton Cezar Ribeiro_UNESP e Profa. Katia Ferraz_ESALQ)
De longe o mais cansativo de todos. E muito muito bom. Recomendo fortemente! Para quem for fazer, lembrar de levar HD externo, pois os modelos gerados e layers podem ser pesados. Diga-se pesado coisas na faixa de ~60 Gb ou mais, dependendo da resolução das suas variáveis. O mais interessante de tudo é poder realmente gerar um trabalho publicável após a disciplina, com seus dados, ou a partir de bancos de dados disponíveis.
5) Curso de método científico (Prof. Marco Mello _UFMG): só coisas boas pra falar desse curso. Por mais que eu estivesse no estágio "reta final", esse curso abriu muito minha mente, resgatou a filosofia dos cantos mais escondidos e subconscientes do meu cérebro, me lembrando que era disso que eu precisava para seguir em frente na ciência. Recomento fortemente que mestrandos e doutorandos façam esse curso. Além de aprender muito com quem faz ciência de forma séria e apaixonada, o clima do curso em terras mineiras é só energia boa! A ementa e objetivo do curso está aqui. Meus parabéns ao Prof. Marco Mello, que mais uma vez não surpreende, confirma.
O que eu queria fazer e não fiz porque não deu e é uma pena, pois está fazendo falta:
BIE 5781 Modelagem Estatística para Ecologia e Recursos Naturais
Uso da linguagem R para dados ecológicos
Quem tiver feito esses dois cursos e quiser compartilhar sua opinião, é só deixar nos comentários!!
abraços e aguardem post sobre: teoria neutra, seleção de modelos e BEPE_FAPESP!
Olá Pessoal! Parabéns a todos os mestrandos que entraram na pós no início do ano passado e chegaram até aqui! Parabéns para você que conseguiu:
* concluir seus créditos em um ano!
*fazer todos dos seus campos/lab no momento em que achou que nesse ponto já teria QUALIFICADO e escrito a tese inteira
*respirar fundo e tratar bem as secretárias da pós e das finanças, lembrando que elas não têm culpa da burocracia, é o sistema! (superei essa fase faz tempo!)
*conciliar de modo minimamente aceitável sua vida acadêmica com família e encontros com velhos amigos de faculdade e infância..
*ler um artigo por dia em alguma semana no início do ano (passado)
*ver seu orientador por skype do outro lado do mundo, o que zerou suas angústias, pelo menos naquele momento!
Sabemos que não é fácil, se fosse fácil qualquer um fazia pós-graduação!
Agora, depois de quase dois anos no programa de pós em Zoologia da UNESP Rio Claro, ressalto e comento as seguintes disciplinas e já adianto que só por essas disciplinas já valeu a pena:
1) Curso Latino-Americano de Frugivoria e Dispersão de Sementes (Prof. Mauro Galleti et al_UNESP etc)
Passar alguns dias no campo com professores como Pedro Jordano foi excelente. Conhecemos o Parque de Intervales e suas plantas e animais. Tive o imenso prazer de ver pela primeira vez ao vivo e a cores um grupo de muriquis comendo embaúbas. Elevei a embaúba ao status de árvore da vida de Intervales, pois em apenas uma manhã observamos mais de quarenta espécies de animais (entre aves e macacos) a visitando! Agora imagine à noite, os morceguinhos na embaúba? Serviço 24h de dispersão de sementes... Também aprendemos muito sobre remoção de frutos, epizoocoria, macacos, antas, etc..
2) Curso de Ecologia da Paisagem (Prof. Milton Cezar Ribeiro_UNESP)
Essencial para quem não manja de ecologia espacial, e para quem manja, uma boa oportunidade de aprender mais com quem sabe. O Prof. Miltinho é fera. Além de publicar highly cited artigos, é um excelente professor. O legal dessa disciplina é a autonomia e suporte na hora de montar os projetos finais. Ter também a visão de um professor não-biólogo (bacharel em ciência da computação) nos faz ver o mundo com outros olhos. No que a ecologia de paisagem pode contribuir para a conservação da biodiversidade remanescente? Com certeza, esse curso nos dá idéias bastante aplicáveis. Outra coisa legal do curso é que ele começa numa quarta-feira e termina na outra quarta-feira. O break do fim de semana é essencial para pensar nos projetos e assimilar tudo!
3) Curso de Redes Ecológicas (Prof. Marco Mello_UFMG)
Mais didático, impossível. Para quem curte interações animal-planta, esse é o canal. O curso é de uma semana, condensado. Com aulas e práticas em computadores todos os dias praticamente. Nele mexemos no R, plotamos redes, calculamos suas métricas e entendemos por que se usar essa abordagem tão fascinante. Só para constar, a monitora do curso é muito eficiente também (EU!)
4) Curso de Modelagem de Distribuição de Espécies (Prof. Milton Cezar Ribeiro_UNESP e Profa. Katia Ferraz_ESALQ)
De longe o mais cansativo de todos. E muito muito bom. Recomendo fortemente! Para quem for fazer, lembrar de levar HD externo, pois os modelos gerados e layers podem ser pesados. Diga-se pesado coisas na faixa de ~60 Gb ou mais, dependendo da resolução das suas variáveis. O mais interessante de tudo é poder realmente gerar um trabalho publicável após a disciplina, com seus dados, ou a partir de bancos de dados disponíveis.
5) Curso de método científico (Prof. Marco Mello _UFMG): só coisas boas pra falar desse curso. Por mais que eu estivesse no estágio "reta final", esse curso abriu muito minha mente, resgatou a filosofia dos cantos mais escondidos e subconscientes do meu cérebro, me lembrando que era disso que eu precisava para seguir em frente na ciência. Recomento fortemente que mestrandos e doutorandos façam esse curso. Além de aprender muito com quem faz ciência de forma séria e apaixonada, o clima do curso em terras mineiras é só energia boa! A ementa e objetivo do curso está aqui. Meus parabéns ao Prof. Marco Mello, que mais uma vez não surpreende, confirma.
O que eu queria fazer e não fiz porque não deu e é uma pena, pois está fazendo falta:
BIE 5781 Modelagem Estatística para Ecologia e Recursos Naturais
Uso da linguagem R para dados ecológicos
Quem tiver feito esses dois cursos e quiser compartilhar sua opinião, é só deixar nos comentários!!
abraços e aguardem post sobre: teoria neutra, seleção de modelos e BEPE_FAPESP!
domingo, 8 de dezembro de 2013
OS 10 MANDAMENTOS DA PÓS-GRADUAÇÃO
E vamos aos mandamentos =P
1. NÃO TERÁS OUTROS DEUSES DIANTE DE SEU ORIENTADOR.
2. NÃO
PRONUNCIARÁS A CITAÇÃO EM VÃO/ NÃO DIGITARÁS O CÓDIGO EM VÃO*
3. LEMBRA-TE DO DIA DO SÁBADO PARA TERMINAR O MANUSCRITO.
4. HONRA TEU PAI E TUA MÃE, QUE PAGARAM TEUS ESTUDOS E TERMINE LOGO ESSA PÓS E ARRUME UM EMPREGO
5. NÃO MATARÁS AS AULAS DAS DISCIPLINAS DA PÓS. CUMPRIRÁS TODOS OS CRÉDITOS
6. NÃO COMETERÁS PROCRASTINAÇÃO
7. NÃO TORTURARÁS OS DADOS OBRIGANDO-OS A CONFESSAREM PADRÕES NÃO OBSERVADOS
8. NÃO ALIMENTARÁS PICUINHAS ENTRE PESQUISADORES
9. NÃO DESEJARÁS A CAFETEIRA DO LABORATÓRIO PRÓXIMO
10. NÃO COBIÇARÁS O FATOR DE IMPACTO ALHEIO.
*A tradução dos papiros dos primeiros pós graduandos remete a ambos os significados
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