terça-feira, 21 de julho de 2015

Carta a um velho cientista

Depois de alguns meses de estiagem, eu volto a desembocar os posts que estavam sendo amadurecidos. Hoje o post é uma carta a um ou alguns velhos (ou não tão velhos assim) cientistas.
Eu nunca fui a Harvard. Diferente do honorável Professor Edward O. Wilson, cujo livro acabo de ler com gosto. Neste livro, Prof. Wilson repete várias vezes o quanto nós, jovens cientistas, somos necessários. Venho por meio desta carta lembrar do quanto você, velho cientista, também é necessário! E urgentemente imprescindível, no mínimo para seus alunos.
Escrevo em nome dos pesquisadores-alunos, ics, mestrandos e doutorandos, órfãos, semi-órfãos, filhos de vários pais científicos, ou de um convencional orientador.
Velhos cientistas, vocês são necessários!
Nós, que nunca fomos a Harvard, não somos formados após a formatura. Somos gado novo, sem peso suficiente pra ser mostrados na Exposhow da ciência.. Nossa raça é indefinida, misturada, brasileira. Não somos ensinados na graduação o que é ser profissional, o que é ser Biólogo/Ecólogo em um mundo “mudado” e em um mercado de trabalho que nos é limitado por muitos motivos. Tentamos correr atrás do prejuízo, mas é muito difícil enxergar um problema quando se está dentro dele..
Nós entramos em um mestrado e damos de tudo pela ciência, mas não nascemos prontos. Somos gado novo. Somos formiguinha. Os velhos cientistas são nossos orientadores, mentores, ícones e exemplos. Eles passam pelo departamento muitas vezes silenciosos, outras vezes irônicos, ou ultra-rápidos. Cobram inovação, cobram publicação ao lado do bebedouro. Mas e a formação? Muitos dos que dizem ser esse tipo de observação um mimimi, mas na verdade o que pensam é MIM-MIM-MIM. Orientadores, se coloquem no lugar dos seus alunos. Vocês já devem ter ouvido falar de cherry picking e outras dificuldades na formação e sucesso de um cientista, certo? Já fui a palestras magnas e li textos o suficiente para defender que hoje é mais difícil pra gente em muitos aspectos. Publish or perish, corta de verbas, falta de bolsas (essa eu já estou calejada), falta de espaço, bolsas didáticas-merreca, falta de material, de método.. Será que os velhos cientistas também poderiam se aperfeiçoar em serem orientadores, no ritmo em que seus bons alunos o fazem em ser alunos?
Se eu não fosse bióloga, seria psicóloga. Já ouvi muito de muitos alunos e sim, de alguns professores. Ah se o blog mostrasse tamanha frustração, espera, e o quanto qualquer atitude/não atitude do velho cientista influenciam na formação do jovem.. Mas aí os orientadores costumam a tratar alunos como um coletivo, “alunos”. “Tem aluno que faz isso, tem aluno que faz aquilo, um absurdo”. Alguma vez você se perguntou, ou perguntou a eles, se estava dando atenção suficiente? Ah... nem brinca né! Após essa frase, talvez muitos velhos cientistas abandonem o texto e voltem pra outra aba do Chrome ou Safari.
O que sempre me agradou na ciência é a progressão da interação Mestre-Aprendiz, que leva a maravilhas na vida científica dos dois. E quando se fala em sala de aula, isso é tão especial quanto. Só prestei Biologia porque a Biologia ensinada pelo meu professor era FASCINANTEMENTE ensinada por ele e aprendida por mim! Na minha visão, essa progressão no mundo acadêmico deveria ser sempre única e especial, como sempre foi para mim. Visão romântica demais, talvez. Porém, vejo casos em que essa progressão se tornou número. Número de alunos, número de papers de impacto maior que 2.0. Cadê a calma? Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo – Disse o pensador. Será que os velhos cientistas deveriam refletir sobre seus alunos de forma menos atropelada por prazos?
 Como vamos procurar novos mundos na Terra? Como teremos uma vida na ciência se não tiver vida pulsante, mergulho interativo, sintonia na ciência entre os próprios autores das obras? Temo por uma ciência rasa e asséptica, de linha de mercado.
Que tal uma busca ao pensar juntos sem levar em conta prazos, assinaturas às pressas, mas sim Descobertas e Questionamentos? Vamos a Harvard: - Quando falei a ele sobre equilíbrio, falei das ilhas próximas e distantes como estando “saturadas”. MacArthur disse: “Deixe-me pensar um pouco sobre isso”. Eu confiei que ele iria descobrir algo. Eu já tinha visto indícios da engenhosidade de MacArthur.. - Em diversas discussões esses caras formularam uma Ecologia moderna e fundamental! Trocavam cartas e as liam, diferente dos e-mails que, se hoje tiverem mais do que 4 linhas, não serão lidos pelos orientadores, ou mesmo por co-autores! Eles, os velhões se encontravam, sentavam e pensavam juntos. Não soa nada difícil a iniciativa que foi publicada em 1967 para o mundo.. Que tal desacelerar e ouvir?
E falando em parcerias, disse Wilson: “Minhas dificuldades em Harvard aumentavam (...) Os mais velhos e mais reconhecidos do corpo docente que trabalhavam com as mesmas disciplinas ou estavam completamente absorvidos na tarefa de cuidar dos seus jardins acadêmicos ou estavam em negação”. – Nem Harvard pode ser perfeita, mas de fato se mostra um grande exemplo por meio de Wilson, que nos valoriza, os jovens cientistas, e nos diz que somos necessários! Aliás, também não é nada mal regar seu próprio jardim. Portanto, lembrem-se: velhos cientistas, vocês são necessários, e isso vai muito além da sua assinatura!
Menos mimimi, menos MIM-MIM-MIM!

Leituras:

http://physics.wustl.edu/katz/scientist.html
https://marcoarmello.wordpress.com/2012/03/14/newbies/#more-170
https://en.wikipedia.org/wiki/Cherry_picking_(fallacy)#In_science
https://dynamicecology.wordpress.com/2012/11/27/ecologists-need-to-do-a-better-job-of-prediction-part-i-the-insidious-evils-of-anova/
http://news.sciencemag.org/biology/2014/08/ecology-explaining-less-and-less  








segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Como sobreviver a um mestrado paulera

Oi pessoal! Feliz ano novo! De volta às postagens com fôlego renovado!
Bem, há duas formas de encarar o mestrado: ou você entra na briga ou adquire uma postura de derrotado. As duas posturas estão em um continuum...Nesse contexto, eu evoco novamente o mestre Yoda:

O título do post é “como sobreviver a um mestrado paulera”, pois acredito que deve haver mestrados não pauleiras, eu não duvido, mas a minha experiência foi paulera. Eu sabia que ia ser difícil e assumi o risco, entrei de cabeça, e foi assim que aconteceu.
Antes de entrar nos pormenores, gostaria de dizer novamente que esse post é sobre MINHAS impressões e opiniões.. são dicas que funcionaram bem para mim =D, ou aprendizados após muita tentativa e erro.

Desafios e excessos que eu tive no mestrado

Resumindo bem, a pergunta do meu mestrado foi: “Existe um limiar de fragmentação para morcegos?” Capturei 1500 morcegos em 15 áreas em SP ao longo de um ano. Depois analisei os dados, fui pros EUA fazer um outro trabalho (FAPESP-BEPE) e voltei. Tudo durou 28 meses. Isso incluiu muitos desafios, e aqui comento alguns:
-Sempre curti campo à noite, porém campos a noite podem ser mais cansativos quando se vive em um mundo diurno. Isso porque o mundo é diurno, restaurantes fecham bem antes das 15h em cidadezinhas pacatas, e, geralmente no primeiro dia de campo ficávamos acordados e trabalhando mais de 15 h seguidas. Era muito cansativo.
-Sempre curti morcegos, porém quando caíam mais de 50 em menos de três redes e só eu era capaz de tirá-los, era #tenso!
-Sempre curti ecologia, mas eita ciência complexa hein!
-Sempre curti estudar, mas a literatura vem avançando tão rápido que me sinto permanentemente desatualizada.
-Sempre curti estatística, mas quando os outros explicam ela parece tão mais fácil do que é quando eu tento estudar sozinha!
Aqui cito a amiga Julia Oshima, que em 20 de Janeiro de 2015 publicou um desabafo/texto legal sobre ser ecólogo pesquisador: “Não basta ser ecólogo, tem que ser artista, matemático, domador, piloto, estatístico, filósofo, jornalista, malabarista, programador, humorista, vendedor e ainda saber contar histórias de forma interessante pro revisor gostar de você”. Ou seja, não é fácil não! (Don´t become ascientist
 E foi paulera também porque foi uma transição, foi um crescimento de conhecimento e experiência de magnitude nunca antes sentida por mim. Foi sair da casa dos pais. Foi pagar as próprias contas. Foi muito mais work hard do que play hard.

Como eu sobrevivi?

Inspiração e obstinação

Primeiro, me inspirei em pessoas ao redor que passaram por perrengues bem maiores que o meu. Aqui, perrengue quer dizer uma porrada de campos para fazer, e depois planilhar, analisar e escrever.. e submeter, e tentar viver em meio a tudo isso! Segundo, eu estava obstinada a terminar o projeto, eu me apropriei dele e vivi por ele. Terceiro, mensagens motivacionais de mim para mim foram essenciais! E aí também entram as mensagens motivacionais do meu ex-orientador Marco Mello, que nem imaginava o que eu estava passando, mas sempre emanava mensagens e ensinamentos positivos. Além disso, meus amigos foram essenciais (valeu Julia, Nat, Pavito, Vini!).

Ter um orientador legal

Contar com um orientador top que me deu condições top de me desenvolver e aprender: Miltinho.
A interação com o meu orientador foi essencial, assim que acabaram os campos (antes até) ele repetia que eu tinha que ir pra fora, que eu tinha que pedir bolsa BEPE, nunca me deixando 100% na zona de conforto ahaha.. obrigada, Miltinho. Ao mesmo tempo, algumas vezes ouvi ele dizer: “Rê, vai tomar uma cerveja”, “Rê, vai curtir a mamãe e cachorrinho, vai”. Ainda bem que eu seguia os conselhos dele hahaha...
Aqui vale a pena ler esse post do MM.

A minha dica é: se odeia seu orientador, faça um favor, mude de orientador.

Descanso e ostracismo

Descanso foi essencial.. entrei em uma bolha familiar que me foi plausível, de final de semana eu descansava muito, via filmes,  e lia livros.. e me afastava dos meus amigos (o que foi um ERRO e estou pagando por ele!). Sim, quem está ao seu redor pode ajudar ou atrapalhar em muito sua vida de mestrando: mas o resultado final depende mais de você e da sua interação com seu orientador!

Leia leia leia

Depois que eu fui para o BEPE (ver post aqui), voltei e tinha muitas coisas a terminar ainda. Já que tinha muito a terminar e entender, estudar foi fundamental. E absorver pode levar tempo. Tem coisas que aconteceram em um trabalho de 2013 que eu só entendi outro dia! Isso porque eu li, li, e agora absorvi! Tem conceitos de estatística que conheci em 2012, mas só fui entender em 2014, e explicar para uma terceira pessoa ainda é um desafio.

Seja bom, não seja bobo

Outra coisa que me ajudou muito, mas depois quase atrapalhou foi o envolvimento com várias atividades e demandas do laboratório. Sempre alguém precisa de orientação para usar um programa, revisar um projeto, coletar, analisar, discutir. Sempre há uma aula pra ser dada, um telefonema a ser atendido, um resumo a ser traduzido para algum camarada do lab. Sempre me envolvi muito em atividades paralelas, até que vi que a frase: “me ajuda, é rapidinho” é um mito rsrsrs...mesmo as coisas rapidinhas e não planejadas podem atrapalhar muito quando se tem prazos planejados a cumprir. No ano passado aprendi que um pesquisador não precisa de uma agenda semanal. O planejamento deve ser mensal e anual! Se bobear, bianual.. Os projetos começam a ficar grandes demais, parcerias te prendem em um trabalho que nunca vai ter fim (nunca mesmo!). Ou seja, você quer mesmo ser cientista? Se sim, aprenda que o trabalho nunca tem fim, mas sua vida sim! Então invista muito em organização, pois o que se leva dessa vida é a vida que se leva. Uma estratégia é resolver coisas boa parte somente com momentos marcados/agendados previamente. Isso funciona bem, e ainda deixa sua rotina com momentos flexíveis para se direcionar a coisas não agendadas. Uma coisa que funciona bem pra mim é pedir que nada  de trabalho seja normalmente discutido no facebook, mas sim no email. Bem mais agradável poder abrir seu facebook sem ter que abrir mensagens chatas no final de semana sobre: “Então, você pode me ajudar no meu trabalho, tipo hoje? É pra amanhã”. Ou nada mais brochante que abrir o email domingo à noite contendo um prazo de uma demanda do lab esquecida que vence na segunda, mas só você abriu o email, e muito provavelmente só você estará resolvendo o pepino.
E aí entra outro anti-herói no mestrado paulera, a WIFI no celular.. É quase que irresistível para mim entrar no email de fim-de-semana, mas vim lutando contra isso no último ano, pois isso estava me deixando muito ansiosa e eu estava me sentindo mal e sentindo na pele a parte péssima de ser workaholic (um worklover que fugiu do controle). Então cuidado para não virar um workaholic!!! Se trazer trabalho pra casa ou pros dias de descanso te faz mal, injete uma dose de amor próprio e corte o mal pela raiz! Deixe o trabalho no trabalho. Pós-graduandos também amam, também sofrem, também merecem relaxar =D.

E por fim, aprenda a apanhar!

Um dos grandes lances para seguir feliz na ciência é aprender a ouvir críticas, e chegar a um balanço dinâmico entre humildade e ousadia, que funciona para o seu progresso pessoal e como cientista. Hoje eu sinto um aperto no coração muito menor quando ouço críticas do que quando comecei lá na IC. A gente vai ficando calejado em levar nãos, acredite! O segredo é ir de queda em queda sem perder a motivação e curiosidade de fazer descobertas. Afinal.. o cientista que mais recebe “sims” é muito provavelmente o que mais recebe “nãos”, seja por agências financiadoras, apoios, ou revistas. Então pare de mimimi, e vá a luta!


Eu sobrevivi!

E depois?
Bom, depois de sobreviver ao mestrado, lembre-se que o trabalho não acabou. No mínimo você deveria dar um retorno à sociedade em forma de divulgação científica do seu produto final, e também submeter o seu manuscrito para contribuir de fato com a Ciência, expondo-o ao crivo de seus pares. E depois, vem o doutorado, ou não!
Agora, entre nós, dizem que é fácil entrar no doutorado, o difícil é sair..
Espero ter contribuído para sua sobrevivência, ou pelo menos para seu entendimento ou distração.. Caso queira compartilhar alguma dica de sobrevivência, poste aqui, quem sabe um dia construímos um manual?

Lembrando que todo esse processo teve momentos muito bons e muito dolorosos também, mas foi uma opção minha participar de tudo. E todas as coisas que deixei de fazer no mestrado foram opções minhas, pensadas, dei prioridade máxima ao trabalho. Se me arrependo? Não! Mas hoje ganhei maturidade suficiente para escolher como quero encarar meu doutorado. Não vou levar o doutorado da mesma maneira, pois ganhei eficiência em muitas atividades que antes demorava muito mais, e ganhei tempo também (olha, quatro anos! Ou pura ilusão?).

Esse vídeo a seguir é uma boa analogia para o medo dos prazos ao decorrer do mestrado, uma das cenas que mais me deu medo até hoje! Mas o bom é que:"A vida sempre encontra um meio rs!"






quinta-feira, 27 de novembro de 2014

10 práticas/atitudes saudáveis para se trabalhar no R

#Oi pessoal, recentemente fiz um curso magnífico de R com o excelente #doutorando e amigo Pavel Dodonov, e gostaria de compartilhar 10 #práticas/atitudes saudáveis para se iniciar um script no R que aprendi #apanhando ao longo do tempo:

#1. remover todos os objetos, é uma prática saudável de vez em quando!

rm(list=ls())

#2. o USO DO IGUAL "=" e da setinha "<-": uma coisa é igual a outra? nem #sempre!


c(1,2,3)-> a #entende e funciona espelhado
a<- c(1,2,3)

a=c(1,2,3)
c(1,2,3)=a #não funciona espelhado!

#3. tenha um sistema de nomes, qual é o nome do seu objeto mais importante? #Eu gosto de "dados", o Pavel gosta de "coisa".

#4. os exemplos do help podem ser grandes amigos, se você não entende como #uma função funciona!

#5. default quer dizer= padrão! É o que o programa/função vai considerar/fazer #automaticamente, caso você não mexa nas configurações/argumentos. Se você #quer saber quais são os defaults da função, digite o nome da função:
#exemplo:

rnorm

#function (n, mean = 0, sd = 1) média zero, desvio padrão um!
#.External(C_rnorm, n, mean, sd)
#<bytecode: 0x000000001027ffd8>
#<environment: namespace:stats>

#6. O comando str(dados) é muito útil para ver se você importou seus dados #corretamente!

#7. Se você estiver trabalhando no seu script no Windows, aperte control+R para #mandar rodar seu código. Se você estiver em um Mac, use command+enter.

#8. Lembre-se sempre de revisar comandos grandes:  Duas principais fontes de #erro: ou escreveu o nome errado, ou o tipo de

#objeto não é aquele vc pensava. Quanto mais vezes você der control+R #cegamente, maior será sua frustração e irritabilidade.

#9. não subestime o tempo para fazer um gráfico. Não basta fazer bem a análise, #tem que comunicar bem o seu achado!


#10. A maioria das pessoas que se consideram "Normais" não conseguem ficar 8 #horas seguidas mexendo no R, então encontre seu tempo ótimo. Quando sentir #que a quantidade de erros seguidos é bem maior que acertos, não bata a cabeça #no teclado!

#Salve tudo.. e relaxe, faça um alongamento, planeje seus próximos passos e vá #com deus! Outra opção ótima é procurar a resposta para seu problema em #fóruns (há vários!!!), começando sempre pelas palavras chave do seu problema #no querido Google!

#E você, tem alguma boa prática que acha que todo mundo deveria pelo menos #saber que existe? Compartilhe, pois o R dominou o mundo dos ecólogos!

##"Em terra de bigdata, quem sabe R é rei!"##





domingo, 5 de outubro de 2014

Repasse do Simpósio ECMVS 2014 na visão de uma aluna

Oi pessoal, depois de um tempo sumida, eu volto com o repasse do simpósio internacional de ecologia (PPGECMVS), que rolou em BH de 25 a 27 de Setembro. Aqui vou deixar vocês por dentro do que rolou, acrescentando minha visão pessoal do negócio. Acabei de defender o mestrado, então o simpósio, cheio de temas diferentes, veio em boa hora. Não vou falar de tudo, para não ficar chato, mas enfatizarei o que foi mais marcante para mim.
Organização primorosa, tudo saiu muito melhor do que eu poderia imaginar, e com certeza a qualidade desse simpósio superou o outro simpósio internacional de ecologia do qual eu participei na UFSCar em 2011. O nível de discussão foi alto, com perguntas relevantes da plateia e temas urgentes sendo abordados, como defaunação (Prof. Dirzo) e soluções polêmicas para a mesma (refaunação?). Além disso, temas clássicos e “pedras filosofais” da ecologia foram parte das apresentações, e tivemos a honra de assistir a palestra de encerramento do Prof. Robert Paine (sim, aquele das espécies chaves que você leu no livro do Begon!).
Basicamente a qualidade e a forma de apresentação me despertou tanto interesse que pode ser refletida na quantidade de folhas anotadas no bloquinho que veio de brinde. Nunca escrevi tantas anotações em um congresso/simpósio quanto nesse rsrsrs!
A parte de limnologia foi incrível, top, conheci o trabalho de professores que estão fazendo um trabalho ótimo, como o Prof. Pompeu em Minas, o qual é uma figura inspiradora!
 Além de toda qualidade das discussões, tudo foi apresentado sem “pesar” ou abusar da atenção e energia dos inscritos. O tempo foi, na medida do possível, bem planejado e raramente uma palestra foi maçante. Com exceção das mesas redondas, nas quais sempre tem aquele palestrante que passa demais do tempo por empolgação ou falta de planejamento, foi tudo bem conectado, uma apresentação complementava a outra sem aquela redundância chata típica de mesas redondas mal planejadas. Infelizmente as mesas ruins formam a maioria das que já vi, nas quais os palestrantes ou apresentam seu doutorado sem conectar com algo maior e apresentam temas muito desconexos ou o oposto, apresentações extremamente redundantes (tipo aquelas em que a frase, “como professor tal antes disse e explicou” umas 20X).
A discussão sobre método científico foi produtiva e bem-humorada (marca registrada dos mineiros), relembrando formas de se adquirir o conhecimento (cesta e lanterna, Popper, Kuhn e Lakatos), a importância da pesquisa orientada por hipótese e o falso dilema entre naturalista versus os “hipotéticos-dedutivos”. A irreverente fala do Prof. Parentoni gerou muita reflexão sobre o que é ciência. Nem me lembro mais de quando foi que vi uma palestra em congresso que não “precisou” de slides projetados!
Enfatizou-se também a importância (Og de Souza) de haver a fase de pensamento criativo na ciência, hoje em dia, com pressões por publicação e mil prazos, não temos mais tempo para pensar como deveríamos ter! Concordo totalmente com isso! Isso leva ao risco de se fazer ciência às avessas, no qual você tem que gerar resultados, discussões, produtos (papers) em prazos que não bateriam no tempo que um aluno precisa para absorver e externalizar decentemente seu aprendizado!
Bom, é isso.. E você que foi ao simpósio, gostaria de compartilhar um ponto alto? Comente aqui embaixo!

Do mais, parabéns a toda organização do Simpósio e espero ver mais encontros como esse, seja em Minas ou em outro estado. É claro que se for em Minas a minha pré-disposição já será maior rsrsrs!

Agora algumas fotos relacionadas ao evento:

Logo do ECMVS:


Villa Parentoni e agregados:


Professor José Galisia Tundisi comentando sobre problemas da água em São Paulo:


Eu, Paine e Mitra tietando:


Eu e galera do LEM

Um pouquinho do LEEC (UNESP) no simpósio (Juliana, Mitra, Julia, Pavel, Renata):





Ah! Quem tiver a foto de todos no congresso, me mande, por favor!!

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Repasse do Simpósio ECMVS Internacional de Ecologia e Conservação, em breve!

Oi pessoal, já estou escrevendo o repasse do Simpósio e vai ficar muito legal! Tem muita informação boa para falar, incluindo tendências de pesquisa em Ecologia e o que rolou a partir da minha perspectiva crítica e etológica de estudante.

De antemão, a grande tietagem do simpósio: Prof. Robert Paine! Honra poder conhecer e assistir uma palestra dele!


Eu, Mitra e Prof. Robert Paine. Pingas mineiras em segundo plano.


Logo do PPG ECMVS UFMG

domingo, 1 de junho de 2014

O primeiro paper e as fases pré publicação

Aconteceu em Julho de 2013. Demorou, mas o grande dia, o mais esperado, o mais almejado na minha vida de bióloga, aquele que resolveria o dilema, a dúvida que pendia entre o ser possível e o “não tenho jeito para a coisa”*.

Como deu trabalho.. e o mais engraçado é que a gente pensou tanto para alcançar a simplicidade máxima. A grande descoberta pessoal do meu primeiro paper é que, para publicar, você precisa trabalhar exaustivamente para conseguir ser o mais claro e simples o possível (obrigada MARM)!

Não sei se as sensações que eu tenho sobre mim mesma como pesquisadora serão sempre as mesmas.. Aliás, espero que algumas dessas sensações passem: Além do meu constante sentimento de defasagem científica diário, vem também a superação, reflexão, o subestimar meus dados, e a luta entre a menininha que abraça sua hipótese de pelúcia e a cientista cética que as chuta!
Pelas pesquisas que tenho feito ultimamente, posso identificar e listar para vocês algumas fases recorrentes comuns a elas todas**.. espero que se identifiquem. E caso ainda não tenham passado por por essas fases ao longo de sua pesquisa, já fiquem avisados que elas existem!

**Atenção, essas são as minhas impressões...conheço outros colegas que tem visões diferentes e que passam por outros estágios, sejam eles o “tesão por resolver qualquer mistério” ou o “querer cortar os pulsos”, ou mesmo a fase “bala no orientador” srsrsrs!

O Encantamento: para mim, a parte mais gostosa de todas... talvez mais até do que o publicar. É aí que você, com calma, procura lacunas na ciência, perguntas relevantes, que fazem sentido.. angústias científicas que você gostaria de resolver. E aí você aplica todo aquele conhecimento de método científico para escrever o seu projeto!  É lindo.. as discussões com o orientador ou demais co-autores, aquela “viagem” e ideias fluindo. Aí você embasa suas hipóteses, define um bom delineamento, algo exequível.. nesse momento você fica bem otimista com o campo também, ou com a coleta de dados.. E você usa muito da sua criatividade, o que é muito legal!

A angústia: após 3 meses de submetido, a aprovação do projeto ainda não saiu.. o relógio correndo e você começa a pensar nos problemas logísticos que terá se não começar os campos AGORA! (nesse momento sinto que muitas pessoas vão se identificar).

O vislumbre: isso é novo, isso vai ser muito útil! Projeto aprovado, tenho grana, bora pro campo/lab/museus do mundo!

A estafa: depois de metade dos campos concluídos a fadiga toma conta de você. Essa fase é um limiar real. Muitas pessoas nesse momento pararão de fazer os campos por falta de tempo/dinheiro/energia e analisarão tudo daquele jeito mesmo. Outras pessoas terão uma crise durante mais ou menos um mês, quando vão chorar, conversar com amigos, refletir e chegarão na conclusão de que elas não são vítimas da própria pesquisa. Aí elas pararão de se sentir como vítimas e levantarão, sacudirão a poeira e darão a volta por cima, cumprindo todas as etapas da melhor maneira possível (sangue+suor+lágrimas). Outras pessoas desistirão da pós-graduação e da vida acadêmica.

A fase “Acabei os campos”/”Acabei o experimento”/”Acabei os sequenciamentos”/”Acabei de medir todos os bichos do museu”:  ESSA FASE É UMA DELÍCIA! Agora você tem A PLANILHA! Você olha deliciada para aquela planilha e vai comemorar, pagando rodada de pinga pra galera!

A fase organizar estágio relâmpago no exterior: se resume a LOUCURA! Mas vale a pena!

A queda do coqueiro: Aí você começa a fazer os primeiros EDAS, gráficos exploratórios.. e pula logo pro que interessa.. para aquela associação que você esperava (já que sua hipótese ainda não era modular naquela época rsrs..). Seu coração bate apertado quando você vê que o padrão que você esperava não é tão claro.. ou que nem era um padrão! E você quebra a cabeça pensando no que pode explicar aquilo, mas depois de não se satisfazer com suas explicações, você vai dormir, ou tentar dormir, chateado, pensando que você é uma m###a de pesquisador rsrs!

Fase “já se passaram dois anos..”: essa fase faz qualquer um refletir muito. Por exemplo, em um mestrado, é fim de bolsa, mas a pesquisa não acabou. Cadê o artigo? ... tenso..

Bom.. no momento eu estou na fase “já se passaram dois anos”. Conforme eu for conhecendo novas fases, atualizo aqui. E vocês, tem alguma fase recorrente na sua vida acadêmica? Compartilhe!

*na época, a publicação resolveu essa dúvida, mas hoje em dia ainda tenho muitas outras, afinal papers não são tudo, embora sejam muita coisa!







terça-feira, 11 de março de 2014

Repasse do Estágio no exterior (BEPE-FAPESP-EUA)


Oi Pessoal, depois de mais de um mês de volta ao Brasil, volto a escrever no Blog para começar bem o ano.
Aqui vou colocar dicas valiosas (pelo menos para mim foram) e um repasse para quem gostaria de ir para o exterior por uns meses durante a pós-graduação, ou mesmo durante a IC.
Eu realizei um estágio BEPE-FAPESP (Bolsa de estágio de Pesquisa no Exterior). Minha experiência no exterior durou três meses, mas a preparação, desde aquela ideia plantada pelo meu orientador lá no ano passado até o pós-BEPE, durou quase um ano. Passei esses três meses em duas universidades, na Louisiana State University (LSU) e na Texas Tech (TTU).
Antes de começar: Nesse texto eu me refiro somente às experiência/pessoas/modo de funcionamento que vivi nos EUA. Gostaria muito de saber as experiências dos leitores também, compartilhem conosco!!!

O primeiro passo: Por que você quer ir para o exterior?

Já ouvi muita gente dizer “ah, vai ser uma experiência positiva com certeza”. Ainda que você não produza muito, ou não arranje muitas parcerias no laboratório escolhido, você sempre terá um monte de coisas novas a descobrir no país. É verdade! Mas é sempre bom ir focado, ter um bom motivo para ir fazer pesquisa naquele lugar e com aquele orientador estrangeiro. No caso do BEPE, a FAPESP costuma ser bem criteriosa, embora estimule muito a ida do aluno ao exterior.
Então o primeiro passo é saber onde quer ir e quem está lá para te receber. O contato com o orientador estrageiro deve ser muiiito antecipado, muiiito antes da data da viagem. Isso porque os professores de lá são pessoas ocupadas (os daqui também hehe), e organizam suas agendas com meses e até anos de antecedência de um determinado evento.
A memória deles costuma ser boa, e a resposta costumar ser pronta! Os americanos costumam ser muito diretos, então não se ofenda caso ele te diga que não pode te receber. É para o seu bem!
É claro que essa antecedência de contato nem sempre é possível, muitas vezes você só conhece o “cara” pelos papers que ele produziu e a ideia e amadurecimento para iniciar o processo de realização do sonho de fazer uma parte da sua pós no exterior chega num prazo apertado. Comigo não foi diferente! Mas o ideal nesse caso é fazer o que eu digo e não o que eu fiz: Entrei com pedido de visto com um mês antes da viagem, bem como submeti o projeto BEPE um mês antes da data pedida de início de vigência (LOUCURA!). Mas a FAPESP aprovou meu projeto de cara, porém numa data atrasada, então tive que pedir alteração de vigência.
O meu caso foi uma exceção para a FAPESP, nunca tinha acontecido isso antes, mas saibam que é possível alterar a vigência do BEPE mesmo estando com o prazo em cima (pelas normas deles de sair do país a pelo menos 4 meses antes do término da bolsa)!!

O orientador estrangeiro
É sempre legal saber que tipo de recepção seu orientador tende a dar a alunos estrangeiros. Tenho amigos que foram ao exterior por um tempo e só viram o orientador em dois momentos: No dia em que chegaram e poucos dias antes de ir embora. Num mundo ideal, todos os planos sairiam do papel e seriam realizados no projeto junto ou sob a supervisão do seu orientador estrageiro, mas nem sempre é assim.
No meu caso, como eu sou uma latina sentimental, procurei saber com um pesquisador de extrema confiança minha se o meu orientador pretendido era um cara “gente boa” e acolhedor. Deu certo! O cara era muito gente boa e um excelente orientador. Além de tudo ele me recebeu literalmente de braços abertos, já que é casado com uma Paraguaia e conhece nossa cultura latina, cheia de abraços!

Burocracia
As menores linhas podem ser as mais importantes nas regras para se ir ao exterior. No meu caso, eu fui para os EUA. Dei prioridade máxima a entender e seguir as burocracias de entrada no país, mas deixei de lado as burocracias da universidade (erro!). Então leia sempre tudo, várias vezes, e sempre leia os rodapés. É chato, mas é essencial para te acalmar, tomar as rédeas do processo e conseguir o que deseja, seja visto ou SEVIS (autorização para estudantes).
O maior pepino que eu enfrentei com isso me custou 250 dólares. Eu fiz um seguro no brasil (INTERCARE), porém a universidade (LSU) só aceitava seguros que tivessem um representante físico não-terceirizado nos EUA, e isso a INTERCARE não tem. Assim sendo, tive que adquirir o seguro saúde da LSU, o que me custou essa grana a mais. Essa informação estava escrita em um rodapé..

A dica maior
Não hesite, vá! RECOMENDO MUITO que todo cientista entre em contato com a ciência feita no primeiro mundo. Aí vai uma frase retirada do filme “Aposta Máxima”: “Cuidado com essa vozinha dentro da sua cabeça te dizendo para não fazer isso. Essa vozinha não é sua consciência, é MEDO...”. No filme, a frase foi usada num contexto diferente, mas o efeito é muito bom. Eu fiquei com muito receio de ir, quase desisti. E o que me prendia não era razão ou consciência, era MEDO. Medo de sentir saudade, medo de estar num lugar estranho, medo de avião, MEDO. Então, não tenha MEDO!!! Ou supere o MEDO! Obrigada amigos (principalmente Mi, Julia, Marco e Miltinho!) por me estimularem a ir!!!!!

“Se vire” e dicas mais pessoais
Tenha um diário: Eu sou uma pessoa extrovertida, porém momentos de solidão ou de “homesick” acontecem, principalmente quando está extremamente frio e não se tem nada pra fazer. Fiz um diário e comecei a contar os dias a partir do dia 1. Meu diário tem 90 dias e toda essa informação escrita, além de me ajudar muito a refletir sobre minhas vivências e aliviar a saudade, serão úteis, pois contem dicas de lugares legais que eu fui, pessoas que conheci, piadas internas, comidas gostosas... alguns bons detalhes que com certeza eu esquecerei com o tempo. Obrigada Julia por me convencer a levar um diário!
Trabalhe duro, mas ouça o sua voz interior! Vai ter um momento no estágio em que você simplesmente ficará atolado em um ponto e não conseguirá prosseguir. Nessas horas, ouça sua voz interior, sua cabeça cansada, seu eu fisiológico e aproveite!!! Muitas vezes nosso cérebro precisa de um tempo para absorver informações e avançar no trabalho, ainda mais trabalhos como o do cientista, que muito provavelmente terão forte viés intelectual num estágio no exterior.
Respeite o silêncio dos gringos: Muitas vezes vai acontecer numa conversa com uma pessoa nova, o assunto vai acabar. Se você não tiver nada de bom pra dizer mais, não diga.. o silêncio não precisa ser “akward”..
Faça dois backups! SEMPRE..
Não tenha vergonha de desabafar com seu orientador. É uma via de duas mãos! Mostre o que sabe, o que não sabe, e o que gostaria de aprender (humildade na ciência). Você é um aluno!!! E aluno não é professor, aluno é aluno! Aproveite cada minuto com seu orientador, mas sem puxa saquismo! Adorei conviver com o meu orientador no exterior, me considero uma aluna de sorte! De verdade, ele é um exemplo que levarei para a vida inteira! Tanto como pessoa, quanto como cientista!
Bom, quem quiser especificamente dicas sobre as universidades que eu fiquei, é só me perguntar. Já digo de antemão que elas são EXCELENTES! E é claro, para quem quer trabalhar com morcegos nos EUA, Texas Tech é a pedida!!!

Esse post será aperfeiçoado com o tempo, conforme eu for me lembrando de mais dicas, mas o “grosso” ta aí! Compartilhem suas experiências também!

Obrigada a todo o pessoal que conheci no exterior, só gente boa!!! Desde os americanos até a colônia brasileira em Lubbock!




Esse é o Read Reader, feito em bronze. É um homem-livro, feito por Terry Allen, e fica na Texas Tech.. A leitura pode ajudar na construção de pessoas melhores =D



Divulgação Científica é preciso

Oi pessoal, Como está essa correria?  Esses dias saiu um post muito bom sobre como e por que escrever um press release no  Sobr...