Blog relacionado à vida de pós-graduando, angústias científicas, crônicas e ossos do ofício de ser Bióloga e pesquisadora.
Eu sou uma bióloga formada pela Universidade Federal de São Carlos, e doutoranda em Ecologia e Biodiversidade pela Unesp Rio Claro.
segunda-feira, 30 de outubro de 2017
Levei Major, e agora?
Oi pessoal, tudo
bom? Esse post contém recomendações para quem precisa corrigir um manuscrito
para o qual foi sugerido Major Review, ou o atual “Não podemos aceitar seu
manuscrito do jeito que ele está, mas podemos reconsiderar talvez uma versão
revisada que acate tudo o que foi sugerido pela revisão”:
Antes de
começar a mexer no manuscrito revisado, leia uma vez o review e vá fazer outras
coisas. Deixe passar pelo menos um dia e leia novamente. Você estará menos
afobado e indignado e sentirá que o que eles pediram na verdade faz sentido e
que não é tão impossível/chato de se fazer. Caso seja de fato, pense que “o que
não tem remédio, remediado está”.
Não se abale
com a sensação brochante de ler as críticas e um reject. Como diria meu antigo
orientador, “para 749 nãos que eu
recebo vem um sim”! Para quem é pós-graduando, lembre-se que você é ALUNO, e
levar reject faz parte do caminho do aluno. Quase ninguém sai do mestrado
publicando de primeira.
Responda ponto
a ponto por ordem para não se perder.
Seu inglês é
ruim? Escreva a carta resposta em português. Às vezes pode ser fácil argumentar
na sua língua nativa, pelo menos nas primeiras vezes.
Não tenha medo
de argumentar com os revisores, mas justifique bem suas argumentações. Na maior
parte das vezes os revisores nos testam para tirar o máximo de informação sobre
como conduzimos os trabalhos. Isso é um teste de qualidade para averiguar o
rigor do trabalho.
Não fique
tentando adivinhar quem é o revisor. Ouço pessoas que levam reviews cheios de
críticas às vezes até com discurso de ódio ao revisor (revisor **zão!). Isso
não é legal e faz você achar que o revisor tem um problema pessoal contigo,
tirando o foco do que importa, que é seu trabalho. Pode ser melhor encarar as críticas
do revisor como construtivas, ainda que muito duras. Achar que você é vítima da
revisão é improdutivo e pode alimentar uma postura de mimimi que não é
favorável no meio profissional.
Nunca
menospreze as referências bibliográficas. Eu sei, pode ser chato pra caramba
fazer ou conferir referências na mão. Eu particularmente odeio. Mas confira
muito bem. Confira mesmo se você usar Mendeley. Confira elas mesmo quando
estiver na fase de proof. Confira!
Por fim, após terminar a
revisão, você enviará o manuscrito revisado para seus pares. Aí eles vão mexer
(talvez) na sua revisão contribuindo para fechar logo essa fase. Aí você
receberá as versões deles e aceitará ou não as alterações. Depois você lerá de
novo o manuscrito e, cansado, perceberá que acha que está bom para ser
re-submetido. Seu dedo coçará para entrar no site da revista e re-submeter. NÃO
FAÇA ISSO se você estiver pensando consigo mesmo no momento “Não aguento mais
olhar para esse manuscrito”. Caso você pense assim, salve, deixe o manuscrito
guardadinho no seu computador e backup e vá fazer outra coisa. Deixe ele pelo
menos 24h de molho. Depois que você estiver com sua paciência restaurada, abra,
leia a revisão novamente, altere algum possível erro que passou despercebido
(pois você não aguentava mais olhar para aquele negócio) e, aí sim,
re-submeta!!!
E você?
Tem
alguma dica que deixa a revisão de um major mais suave?
Estou sumida do blog, eu sei, mas
como todos sabem, quando você começa o doutorado é como se você entrasse numa caverna.. e
quando sai, sai com aquele aspecto de ser albino se arrastando, quase um troglóbio, só que tedioso...
rsrs! Brincadeira..
Venho aqui jogar minha impressão
sobre esse tal de doutorado em Ecologia e Biodiversidade, estando na metade
dele.
Quando eu me matriculei, me
matriculei toda feliz. Eu tinha sobrevivido ao limbo. Eu ia ser ecóloga! Eu ia
ter bolsa! Eu tinha chances de ter bolsa FAPESP loguinho, era só escrever o
projeto! Eu ia mudar de área de pesquisa, uhu! Eu ia ser multidisciplinar e
holística, e ajudar as pessoas a prever áreas que terão hantavirose..
Só que aí de pouco em pouco vieram os
"choques de realidade":
-O que quer dizer ser Doutora Ecóloga, se você não tem perspectiva de emprego? Acho que quer dizer ser pós
doc por pelo menos seis anos!
-Eu entrei no doutorado sem bolsa.. Me
matriculei dia 13 de Março de 2015 e só fui receber alguma coisa da CAPES em
Outubro de 2015! Isso foi bem brochante! De verdade, eu passei em primeiro
lugar na prova e o que eu ganhei (além de PARABÉNS de um professor do
programa), foi NADA. Ou seja, se você quer fazer doutorado, lembre-se, você não
é especial*, nem se você passou primeiro lugar.. quem dirá nos lugares
subsequentes! Coisas desse tipo te ajudam a entrar numa crise da vida adulta de
cara. Não é mimimi, é sentir-se o que se é.
-Eu não tive chance de ter FAPESP
loguinho. Minha FAPESP só chegou na conta em Julho de 2016! A morosidade da
revisão do projeto é outra coisa bem brochante. Isso quer dizer que o projeto
tem que ser parido antes de se iniciar a matrícula no doutorado (ciência
preventiva da crise!) para que você seja fomentado de acordo durante todo o
processo (ou boa parte dele). Nessas horas eu penso que se eu tivesse filho pra cuidar, ou o leitinho dele, ou a minha carreira acadêmica estariam comprometidos! Ainda bem que nessa época eu tive ajuda da minha vózinha que se foi (te amo vó!) e dos meus pais. Sem isso, sem chance.
-Eu ia mudar de área de pesquisa,
ser holística e útil: Acho que isso foi a única coisa que manteve a
"chama" acesa no doutorado. Ou seja, eu mesma e minha vontade de
aprender. Me senti muito desafiada a conduzir o projeto que eu construí junto
com meus colaboradores. Enfatizo que mudar de área de pesquisa exige
muitíssimo do aluno.
Dificuldades a parte, teve também
a parte super boa: EU TINHA TEMPO! Nestes dois anos de doutorado, eu fiz uma
PORRADA de coisas legais. Quando eu olho para trás eu fico muito feliz, pois
evoluí demais pessoal e academicamente. Deu tempo de iniciar e terminar um
monte de trabalhos paralelos, conhecer gente de todo o lugar (desde Finlândia
até Nova Zelândia) e pensar junto com grandes pesquisadores que eu admiro.
A única coisa que eu diria pra
Renata do passado– e para vocês leitores aspirantes a um doutorado– é pra não
ter expectativas de bolsa e de acolhida no PPG (Programa de pós graduação). Do resto, eu diria "Você
está no caminho certo".
O tempo passou, e aí eu cheguei
na metade do curso... e vi que eu tinha começado todos os capítulos do
doutorado, mas todos eles ainda eram amorfos. Então
agora eu desci com os projetos paralelos para um nível de dedicação basal e
estou de fato fazendo meu doutorado. Com isso estou sendo forçada a aprender a
dizer não, e eu sou péssima em dizer não!
Em relação a ganho de tempo,
preciso ressaltar que seguir o conselho do meu orientador e também meus guts de
não incluir atividades de campo no meu doutorado foi o que me permitiu avançar
na multidisciplinaridade do meu projeto, sistemas de informação geográfica,
estatística, projetos paralelos e atividades DE ENSINO! Atividades de Ensino me alegraram muito durante o doutorado. Micharias ganhadas
pela bolsa didática a parte, o fato das bolsas “tapa buraco” existirem e
estarem super frequentes na UNESP me permitiu ser DOCENTE de alunos da Biologia, os quais eu adorei! Isso me permitiu ter certeza de que amo ser
professora e acho que até sou boa nisso. Desejo muita força pros bolsistas
didáticos, e que eles sejam mais valorizados, tanto no quesito financeiro quando
no quesito status social.
Por fim, espero que lendo isso,
você que quer fazer um doutorado em Ecologia ou áreas relacionadas, esteja
previnido e consciente da falta de bolsas nos PPGs. Lembre-se dos seus sonhos e
pondere se fazer doutorado vai te ajudar a conquista-los.
Boa caminhada para você! Você quer compartilhar suas percepções também? Comenta aqui embaixo :D
*Essa parte pareceu cruel, mas o
mundo do trabalho é por aí mesmo. É importante lembrar que na vida acadêmica, o
retorno é principalmente em forma de prestígios (incluindo chocolate).
Parafraseando o Pantaneiro, que gentilmente revisou este post, nós
pós-graduandos somos especiais sim, fazendo parte de uma parcela muito pequena
da população que se dedica à Ciência e ao conhecimento. Mas ninguém (ou
raramente alguém) vai te dizer isso na universidade, portanto a autoconfiança
tem que estar sempre em dia. Apesar de ninguém dizer que você é ótimo nesse meio
com tanta frequência, suas conquistas falarão por você. Seus feitos te
precederão. O fato de seus alunos aprenderem ou irem com vontade de aprender na
sua aula, seus cursos nos congressos serem sucesso e seus artigos serem citados
é uma forma de reconhecimento louvável. E por fim, o fato de não ter bolsa para
todo mundo é uma falha no sistema, não do aluno. Mas como melhorar isso é
assunto para outro post..
Caro aluninho de doutorado/Cara
pequena gafanhota,
Obrigada por submeter
precipitadamente seu manuscrito para nossa excelente revista. Você tornou tudo
tão mais fácil pra mim.. Após ler o seu título e abstract por cima, rapidamente,
pelo meu iphone mesmo, eu consultei um dos outros editores da revista (na
verdade tomei um café com ele e perguntei se ele tinha visto o título), fizemos
uma cara de nojinho conjunta e resolvi te dar Reject. Você está começando,
precisa comer mais arroz com feijão, ou precisa de um autor que seja aceito no
nosso seleto grupo de editores. Aliás, nem da nossa sociedade você faz parte!
Mas no geral, acho que esse seu manuscrito não está muito “a cara” da nossa
revista. Então nem adianta submeter de novo, ou ficar de mimimi, certo?
A gente recebe uma porrada de
manuscritos aqui.. metade vai pra revisão e nem 30% são publicados.. mas
também, nem todos são hot, o seu é um
exemplo disso. A gente tem vários critérios para avaliar os papers, mas no
geral é só passar os olhos pelo título e pela razão que você nos deu pra
publicar.. no máximo as figuras eu vejo, e olhe lá. Aliás, aquela sua figura 2 está muito
legal hein, vou usar esse layout no meu próximo paper! (E com certeza ele sairá antes do seu muahahaha..)
Enfim, boa sorte aí.. espero que
após você defender consiga logo outra bolsa. Mas se me perguntarem sobre você, nem
te conheço!
Mais pra frente, aliás, beemmm mais
pra frente, tenta submeter aqui com a gente novamente. Quem sabe eu recomendo
pra revisão? Não fica triste não, reject é de praxe ;)
Sinceramente, valew, falows!
Editor chefe
quinta-feira, 8 de setembro de 2016
Recomendação de disciplinas cursadas no doutorado 2015-2016
Olá pessoal! Parabéns a todos os mestrandos defenderam seus mestrados! Parabéns para você que conseguiu:
*finalizar o mestrado sem ter submetido ou publicado os papers do mestrado
* finalizar o mestrado tendo submetido ou publicado os papers do mestrado
*respirar fundo e tratar bem as secretárias da pós e das finanças, lembrando que elas não têm culpa da burocracia, é o sistema! (superei essa fase faz tempo!)
*conciliar de modo minimamente aceitável sua vida acadêmica com família e encontros com namorado, velhos amigos de faculdade e infância..
*sublimar o fato de seu orientador ser muito ocupado.
Sabemos que não é fácil, se fosse fácil qualquer um fazia pós-graduação!
Agora, depois de ter finalizado o mestrado e entrado no doutorado, ressalto e comento algumas disciplinas que cursei no doutorado:
1-Genética da Paisagem – Dra. Marina Correa Cortes (4 créditos): a professora Marina é ótima, super atenciosa. Na disciplina são mostrados vários métodos de análise bastante atuais para genética da paisagem. A monitora, Carol, é super legal e nos ajudou muito também.
Eu nunca fiz nenhuma disciplina de genética molecular e consegui acompanhar numa boa. Entender o básico de R ajuda, e a disciplina é uma mão na roda para quem já extraiu seus dados genéticos, já calculou índices de paisagem. Ou seja, quem já tem a tabela de dados pronta, pode sair com um artigo terminado, pois as análises são todas muito bem destrinchadas no R. Pra quem já trabalha com genética, mas não entende tanto de paisagem, se abre um leque de oportunidades de investigação com as ferramentas e ideias mostradas.
2-Desenho experimental e análise de dados multivariados – Dr. Tadeu de Siqueira Barros (4 créditos): Disciplina fantástica para ter uma base em multivariada. Aí foi que eu realmente entendi estatísticas por distâncias e as diferentes análises de ordenação e agrupamento. O professor é excelente e as dicussões e literatura compartilhada tem ajudado muito na minha formação. De manhã tem aulas teóricas e a tarde exercícios no R.
3-Curso de campo do ECMVS/UFMG: O curso acontece no Parque Estadual do Rio Doce, uma paisagem lindíssima em uma das últimas grandes manchas de Mata Atlântica em MG. Alojamento privilegiado e comida mineira. Professores bons que focam na parte de treinamento da realidade de ser cientista. Não é um curso de mateiro, é um curso de campo em Ecologia. Nele o aluno aprimora habilidades de história natural, observação, coleta e organização de dados, estatística, apresentação e escrita científica. Muito bom.
Agora disciplinas que não fiz, mas recomendo porque se fala muito bem aqui:
Ecologia do Movimento - Drs. Karl Stephan Mokross e Milton Cezar Ribeiro (4créditos)
Depois de alguns meses de
estiagem, eu volto a desembocar os posts que estavam sendo amadurecidos. Hoje o post é uma carta a um ou alguns velhos (ou não tão velhos assim)
cientistas.
Eu nunca fui a Harvard. Diferente
do honorável Professor Edward O. Wilson, cujo livro acabo de ler com gosto.
Neste livro, Prof. Wilson repete várias vezes o quanto nós, jovens cientistas,
somos necessários. Venho por meio desta carta lembrar do quanto você, velho
cientista, também é necessário! E urgentemente imprescindível, no mínimo para
seus alunos.
Escrevo em nome dos
pesquisadores-alunos, ics, mestrandos e doutorandos, órfãos, semi-órfãos,
filhos de vários pais científicos, ou de um convencional orientador.
Velhos cientistas, vocês são
necessários!
Nós, que nunca fomos a Harvard,
não somos formados após a formatura. Somos gado novo, sem peso suficiente pra
ser mostrados na Exposhow da ciência.. Nossa raça é indefinida, misturada,
brasileira. Não somos ensinados na graduação o que é ser profissional, o que é
ser Biólogo/Ecólogo em um mundo “mudado” e em um mercado de trabalho que nos é
limitado por muitos motivos. Tentamos correr atrás do prejuízo, mas é muito
difícil enxergar um problema quando se está dentro dele..
Nós entramos em um mestrado e
damos de tudo pela ciência, mas não nascemos prontos. Somos gado novo. Somos
formiguinha. Os velhos cientistas são nossos orientadores, mentores, ícones e
exemplos. Eles passam pelo departamento muitas vezes silenciosos, outras vezes
irônicos, ou ultra-rápidos. Cobram inovação, cobram publicação ao lado do
bebedouro. Mas e a formação? Muitos dos que dizem ser esse tipo de observação
um mimimi, mas na verdade o que pensam é MIM-MIM-MIM. Orientadores, se coloquem
no lugar dos seus alunos. Vocês já devem ter ouvido falar de cherry picking e
outras dificuldades na formação e sucesso de um cientista, certo? Já fui a
palestras magnas e li textos o suficiente para defender que hoje é mais difícil
pra gente em muitos aspectos. Publish or perish, corta de verbas, falta de
bolsas (essa eu já estou calejada), falta de espaço, bolsas didáticas-merreca,
falta de material, de método.. Será que os velhos cientistas também poderiam se
aperfeiçoar em serem orientadores, no ritmo em que seus bons alunos o fazem em
ser alunos?
Se eu não fosse bióloga, seria
psicóloga. Já ouvi muito de muitos alunos e sim, de alguns professores. Ah se o
blog mostrasse tamanha frustração, espera, e o quanto qualquer atitude/não
atitude do velho cientista influenciam na formação do jovem.. Mas aí os
orientadores costumam a tratar alunos como um coletivo, “alunos”. “Tem aluno
que faz isso, tem aluno que faz aquilo, um absurdo”. Alguma vez você se
perguntou, ou perguntou a eles, se estava dando atenção suficiente? Ah... nem
brinca né! Após essa frase, talvez muitos velhos cientistas abandonem o texto e
voltem pra outra aba do Chrome ou Safari.
O que sempre me agradou na
ciência é a progressão da interação Mestre-Aprendiz, que leva a maravilhas na
vida científica dos dois. E quando se fala em sala de aula, isso é tão especial
quanto. Só prestei Biologia porque a Biologia ensinada pelo meu professor era FASCINANTEMENTE
ensinada por ele e aprendida por mim! Na minha visão, essa progressão no mundo
acadêmico deveria ser sempre única e especial, como sempre foi para mim. Visão
romântica demais, talvez. Porém, vejo casos em que essa progressão se tornou
número. Número de alunos, número de papers de impacto maior que 2.0. Cadê a
calma? Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo – Disse o pensador. Será que
os velhos cientistas deveriam refletir sobre seus alunos de forma menos
atropelada por prazos?
Como vamos procurar novos mundos na Terra?
Como teremos uma vida na ciência se não tiver vida pulsante, mergulho
interativo, sintonia na ciência entre os próprios autores das obras? Temo por
uma ciência rasa e asséptica, de linha de mercado.
Que tal uma busca ao pensar
juntos sem levar em conta prazos, assinaturas às pressas, mas sim Descobertas e
Questionamentos? Vamos a Harvard: - Quando
falei a ele sobre equilíbrio, falei das ilhas próximas e distantes como estando
“saturadas”. MacArthur disse: “Deixe-me pensar um pouco sobre isso”. Eu confiei
que ele iria descobrir algo. Eu já tinha visto indícios da engenhosidade de
MacArthur.. - Em diversas discussões esses caras formularam uma Ecologia moderna
e fundamental! Trocavam cartas e as liam, diferente dos e-mails que, se hoje
tiverem mais do que 4 linhas, não serão lidos pelos orientadores, ou mesmo por
co-autores! Eles, os velhões se encontravam, sentavam e pensavam juntos. Não
soa nada difícil a iniciativa que foi publicada em 1967 para o mundo.. Que tal
desacelerar e ouvir?
E falando em parcerias, disse
Wilson: “Minhas dificuldades em Harvard aumentavam (...) Os mais velhos e mais
reconhecidos do corpo docente que trabalhavam com as mesmas disciplinas ou
estavam completamente absorvidos na tarefa de cuidar dos seus jardins
acadêmicos ou estavam em negação”. – Nem Harvard pode ser perfeita, mas de fato
se mostra um grande exemplo por meio de Wilson, que nos valoriza, os jovens
cientistas, e nos diz que somos necessários! Aliás, também não é nada mal regar
seu próprio jardim. Portanto, lembrem-se: velhos cientistas, vocês são necessários,
e isso vai muito além da sua assinatura!
Oi pessoal! Feliz ano novo! De volta às postagens com fôlego
renovado!
Bem, há duas formas de encarar o mestrado: ou você entra na
briga ou adquire uma postura de derrotado. As duas posturas estão em um
continuum...Nesse contexto, eu evoco novamente o mestre Yoda:
O título do post é “como sobreviver a um mestrado paulera”,
pois acredito que deve haver mestrados não pauleiras, eu não duvido, mas a
minha experiência foi paulera. Eu sabia que ia ser difícil e assumi o risco,
entrei de cabeça, e foi assim que aconteceu.
Antes de entrar nos pormenores, gostaria de dizer novamente
que esse post é sobre MINHAS impressões e opiniões.. são dicas que funcionaram
bem para mim =D, ou aprendizados após muita tentativa e erro.
Desafios e excessos
que eu tive no mestrado
Resumindo bem, a pergunta do meu mestrado foi: “Existe um
limiar de fragmentação para morcegos?” Capturei 1500 morcegos em 15 áreas em SP ao
longo de um ano. Depois analisei os dados, fui pros EUA fazer um outro trabalho
(FAPESP-BEPE) e voltei. Tudo durou 28 meses. Isso incluiu muitos desafios, e aqui
comento alguns:
-Sempre curti campo à noite, porém campos a noite podem ser
mais cansativos quando se vive em um mundo diurno. Isso porque o mundo é
diurno, restaurantes fecham bem antes das 15h em cidadezinhas pacatas, e, geralmente no primeiro dia de campo ficávamos acordados e trabalhando mais de
15 h seguidas. Era muito cansativo.
-Sempre curti morcegos, porém quando caíam mais de 50 em
menos de três redes e só eu era capaz de tirá-los, era #tenso!
-Sempre curti ecologia, mas eita ciência complexa hein!
-Sempre curti estudar, mas a literatura vem avançando tão
rápido que me sinto permanentemente desatualizada.
-Sempre curti estatística, mas quando os outros explicam ela
parece tão mais fácil do que é quando eu tento estudar sozinha!
Aqui cito a amiga Julia Oshima, que em 20 de Janeiro de 2015
publicou um desabafo/texto legal sobre ser ecólogo pesquisador: “Não basta ser ecólogo, tem que ser artista,
matemático, domador, piloto, estatístico, filósofo, jornalista, malabarista,
programador, humorista, vendedor e ainda saber contar histórias de forma
interessante pro revisor gostar de você”. Ou
seja, não é fácil não! (Don´t become ascientist)
E foi paulera também porque foi uma
transição, foi um crescimento de conhecimento e experiência de magnitude nunca
antes sentida por mim. Foi sair da casa dos pais. Foi pagar as próprias contas.
Foi muito mais work hard do que play hard.
Como eu sobrevivi?
Inspiração e obstinação
Primeiro, me inspirei em pessoas ao redor que passaram por
perrengues bem maiores que o meu. Aqui, perrengue quer dizer uma porrada de
campos para fazer, e depois planilhar, analisar e escrever.. e submeter, e
tentar viver em meio a tudo isso! Segundo, eu estava obstinada a terminar o
projeto, eu me apropriei dele e vivi por ele. Terceiro, mensagens motivacionais
de mim para mim foram essenciais! E aí também entram as mensagens motivacionais
do meu ex-orientador Marco Mello, que nem imaginava o que eu estava passando,
mas sempre emanava mensagens e ensinamentos positivos. Além disso, meus amigos
foram essenciais (valeu Julia, Nat, Pavito, Vini!).
Ter um orientador legal
Contar com um orientador top que me deu condições top de me
desenvolver e aprender: Miltinho.
A interação com o meu orientador foi essencial, assim que
acabaram os campos (antes até) ele repetia que eu tinha que ir pra fora, que eu
tinha que pedir bolsa BEPE, nunca me deixando 100% na zona de conforto ahaha..
obrigada, Miltinho. Ao mesmo tempo, algumas vezes ouvi ele dizer: “Rê, vai
tomar uma cerveja”, “Rê, vai curtir a mamãe e cachorrinho, vai”. Ainda bem que
eu seguia os conselhos dele hahaha...
A minha dica é: se odeia seu orientador, faça um favor, mude
de orientador.
Descanso e ostracismo
Descanso foi essencial.. entrei em uma bolha familiar que me
foi plausível, de final de semana eu descansava muito, via filmes, e lia livros.. e me afastava dos meus amigos
(o que foi um ERRO e estou pagando por ele!). Sim, quem está ao seu redor pode
ajudar ou atrapalhar em muito sua vida de mestrando: mas o resultado final depende mais de você e da sua interação com seu
orientador!
Leia leia leia
Depois que eu fui para o BEPE (ver post aqui), voltei e
tinha muitas coisas a terminar ainda. Já que tinha muito a terminar e entender,
estudar foi fundamental. E absorver pode levar tempo. Tem coisas que
aconteceram em um trabalho de 2013 que eu só entendi outro dia! Isso porque eu
li, li, e agora absorvi! Tem conceitos de estatística que conheci em 2012, mas
só fui entender em 2014, e explicar para uma terceira pessoa ainda é um
desafio.
Seja bom, não seja bobo
Outra coisa que me ajudou muito, mas depois quase atrapalhou
foi o envolvimento com várias atividades e demandas do laboratório. Sempre alguém
precisa de orientação para usar um programa, revisar um projeto, coletar,
analisar, discutir. Sempre há uma aula pra ser dada, um telefonema a ser
atendido, um resumo a ser traduzido para algum camarada do lab. Sempre me
envolvi muito em atividades paralelas, até que vi que a frase: “me ajuda, é
rapidinho” é um mito rsrsrs...mesmo as coisas rapidinhas e não planejadas podem
atrapalhar muito quando se tem prazos planejados a cumprir. No ano passado
aprendi que um pesquisador não precisa de uma agenda semanal. O planejamento
deve ser mensal e anual! Se bobear, bianual.. Os projetos começam a ficar
grandes demais, parcerias te prendem em um trabalho que nunca vai ter fim
(nunca mesmo!). Ou seja, você quer mesmo ser cientista? Se sim, aprenda que o
trabalho nunca tem fim, mas sua vida sim! Então invista muito em organização,
pois o que se leva dessa vida é a vida que se leva. Uma estratégia é resolver
coisas boa parte somente com momentos marcados/agendados previamente. Isso
funciona bem, e ainda deixa sua rotina com momentos flexíveis para se
direcionar a coisas não agendadas. Uma coisa que funciona bem pra mim é pedir
que nada de trabalho seja normalmente
discutido no facebook, mas sim no email. Bem mais agradável poder abrir seu
facebook sem ter que abrir mensagens chatas no final de semana sobre: “Então,
você pode me ajudar no meu trabalho, tipo hoje? É pra amanhã”. Ou nada mais
brochante que abrir o email domingo à noite contendo um prazo de uma demanda do
lab esquecida que vence na segunda, mas só você abriu o email, e muito
provavelmente só você estará resolvendo o pepino.
E aí entra outro anti-herói no mestrado paulera, a WIFI no
celular.. É quase que irresistível para mim entrar no email de fim-de-semana,
mas vim lutando contra isso no último ano, pois isso estava me deixando muito
ansiosa e eu estava me sentindo mal e sentindo na pele a parte péssima de ser workaholic (um worklover que fugiu do controle). Então cuidado para não virar
um workaholic!!! Se trazer trabalho pra casa ou pros dias de descanso te faz
mal, injete uma dose de amor próprio e corte o mal pela raiz! Deixe o trabalho
no trabalho. Pós-graduandos também amam, também sofrem, também merecem relaxar =D.
E por fim, aprenda a apanhar!
Um dos grandes lances para seguir feliz na ciência é
aprender a ouvir críticas, e chegar a um balanço dinâmico entre humildade e
ousadia, que funciona para o seu progresso pessoal e como cientista. Hoje eu
sinto um aperto no coração muito menor quando ouço críticas do que quando
comecei lá na IC. A gente vai ficando calejado em levar nãos, acredite! O
segredo é ir de queda em queda sem perder a motivação e curiosidade de fazer
descobertas. Afinal.. o cientista que mais recebe “sims” é muito provavelmente
o que mais recebe “nãos”, seja por agências financiadoras, apoios, ou revistas.
Então pare de mimimi, e vá a luta!
Eu sobrevivi!
E depois?
Bom, depois de sobreviver ao mestrado, lembre-se que o
trabalho não acabou. No mínimo você deveria dar um retorno à sociedade em forma
de divulgação científica do seu produto final, e também submeter o seu
manuscrito para contribuir de fato com a Ciência, expondo-o ao crivo de seus
pares. E depois, vem o doutorado, ou não!
Agora, entre nós, dizem que é fácil entrar no doutorado, o difícil
é sair..
Espero ter contribuído para sua sobrevivência, ou pelo menos
para seu entendimento ou distração.. Caso queira compartilhar alguma dica de
sobrevivência, poste aqui, quem sabe um dia construímos um manual?
Lembrando que todo esse processo teve momentos muito bons e muito dolorosos também, mas foi uma opção minha participar de tudo. E todas as coisas que deixei de fazer
no mestrado foram opções minhas, pensadas, dei prioridade máxima ao trabalho.
Se me arrependo? Não! Mas hoje ganhei maturidade suficiente para escolher como
quero encarar meu doutorado. Não vou levar o doutorado da mesma maneira, pois
ganhei eficiência em muitas atividades que antes demorava muito mais, e ganhei
tempo também (olha, quatro anos! Ou pura ilusão?).
Esse vídeo a seguir é uma boa analogia para o medo dos prazos ao decorrer do mestrado, uma das cenas que mais me deu medo até hoje! Mas o bom é que:"A vida sempre encontra um meio rs!"
#Oi pessoal, recentemente fiz um curso magnífico de R com o excelente #doutorando e amigo Pavel Dodonov, e gostaria de compartilhar 10 #práticas/atitudes saudáveis para se iniciar um script no R que aprendi #apanhando ao longo do tempo:
#1. remover todos os objetos, é uma prática saudável de vez em quando!
rm(list=ls())
#2. o USO DO IGUAL "=" e da setinha "<-": uma coisa é igual a outra? nem #sempre!
c(1,2,3)-> a #entende e funciona espelhado
a<- c(1,2,3)
a=c(1,2,3)
c(1,2,3)=a #não funciona espelhado!
#3. tenha um sistema de nomes, qual é o nome do seu objeto mais importante? #Eu gosto de "dados", o Pavel gosta de "coisa".
#4. os exemplos do help podem ser grandes amigos, se você não entende como #uma função funciona!
#5. default quer dizer= padrão! É o que o programa/função vai considerar/fazer #automaticamente, caso você não mexa nas configurações/argumentos. Se você #quer saber quais são os defaults da função, digite o nome da função:
#exemplo:
rnorm
#function (n, mean = 0, sd = 1) média zero, desvio padrão um!
#.External(C_rnorm, n, mean, sd)
#<bytecode: 0x000000001027ffd8>
#<environment: namespace:stats>
#6. O comando str(dados) é muito útil para ver se você importou seus dados #corretamente!
#7. Se você estiver trabalhando no seu script no Windows, aperte control+R para #mandar rodar seu código. Se você estiver em um Mac, use command+enter.
#8. Lembre-se sempre de revisar comandos grandes: Duas principais fontes de #erro: ou escreveu o nome errado, ou o tipo de
#objeto não é aquele vc pensava. Quanto mais vezes você der control+R #cegamente, maior será sua frustração e irritabilidade.
#9. não subestime o tempo para fazer um gráfico. Não basta fazer bem a análise, #tem que comunicar bem o seu achado!
#10. A maioria das pessoas que se consideram "Normais" não conseguem ficar 8 #horas seguidas mexendo no R, então encontre seu tempo ótimo. Quando sentir #que a quantidade de erros seguidos é bem maior que acertos, não bata a cabeça #no teclado!
#Salve tudo.. e relaxe, faça um alongamento, planeje seus próximos passos e vá #com deus! Outra opção ótima é procurar a resposta para seu problema em #fóruns (há vários!!!), começando sempre pelas palavras chave do seu problema #no querido Google!
#E você, tem alguma boa prática que acha que todo mundo deveria pelo menos #saber que existe? Compartilhe, pois o R dominou o mundo dos ecólogos!